Interpretação Bíblica Evangelho de João 19
João 19
19:1-3. O prisioneiro foi açoitado a mando de Pilatos. Esse foi o segundo
expediente do governador, tendo falhado a primeira tentativa de garantir a
libertação por causa da preferência a Barrabás. Pilatos pensou que os
judeus ficariam satisfeitos se Jesus fosse humilhado sofrendo dessa maneira. O
Senhor predisse este tratamento (Mt. 20:19). Veja também Is. 53:3. Uma
coroa de espinhos. Foi zombaria da parte dos soldados, por causa da
alegada realeza de Jesus. Há quem pense que esta coroa fosse feita das pontudas
folhas da tamareira, relacionando-a assim com as palmeiras quando Jesus entrou
em Jerusalém. Considerando que a palmeira era um símbolo das esperanças de
independência dos judeus até os dias dos Macabeus, esta atitude dos soldados
teria sido a rude resposta de Roma aos judeus como um todo. Do ponto de vista
bíblico pode-se dizer que os espinhos expressam a maldição do pecado (Gn. 3:17,
18), que Cristo estava suportando pela raça humana. Um manto de
púrpura. Muitas vezes associado à realeza. Assim vestido, Jesus
tornou-se um objeto de divertimento e abuso dos soldados.
4, 5. Outra vez saiu Pilatos. Ele pretendia preparar o caminho para
a apresentação de Jesus por meio de um pronunciamento grandioso. Eis
que vo-lo apresento. Isto concordava com o espírito de zombaria dos
soldados. Ele, o governador romano, apresentaria Aquele que se dizia ser um
rei, mas que agora certamente não podia ser confundido com um rei. Eis
o homem! Não sabemos o que Pilatos pretendia dizer com isso. Alguns
vêem na situação um desejo de despertar a piedade nos corações dos judeus. Mas
o cenário dá mais a impressão de zombaria. Homem pode
significar apenas “criatura miserável “. De qualquer maneira, as
palavras de Pilatos, não acho nele crime algum, tem um
estranho toque. Se o prisioneiro era inocente, por que foi chicoteado?
6. A resposta dos principais sacerdotes foi uma recusa
ressoante a ser satisfeita com castigo doloroso e humilhante. Crucifica-o,
crucifica-o. A resposta de Pilatos, Tomai-o vós, enfatiza
o vós. Em outras palavras, “Se é preciso que haja alguma
crucificação, vocês terão de fazê-la “. Pilatos estava fugindo de associar se
ao desejo dos judeus, mas não estava seriamente dando permissão para condenarem
Jesus à morte. Essa foi a terceira vez que o governador declarou-se incapaz de
encontrar qualquer crime (aitia) em Jesus. A palavra
foi usada no sentido legal com base na queixa apresentada. 7. Pilatos
firmava-se na lei romana. Os judeus apresentaram algo mais em oposição. Temos
uma lei. A ênfase recai sobre o nós. Nossa lei exige
a morte do prisioneiro, porque a si mesmo se fez Filho de Deus. A
passagem característica por trás da declaração é Lv. 24:16. Jesus foi acusado
de blasfêmia durante o seu ministério (Jo. 5:18) e no final do mesmo (Mc.
14:62-64).
8. Mais atemorizado. O temor anterior de Pilatos foi
devido à irritada persistência dos acusadores de Jesus, que não podiam ser
contrariados. Talvez João esteja considerando que seus leitores já sabem a
respeito do sonho da esposa de Pilatos (Mt. 27:19). O temor do governador era
devido ao fato de que desconfiava estar lidando com alguém que, sob um certo
aspecto, era sobrenatural – um filho dos deuses.
9. Pilatos começou a achar que este caso era mais complicado do que pensara
a principio. Por isso introduziu o prisioneiro na sala das audiências para uma
outra entrevista. Donde és tu? Tinha em vista origem e
natureza, não residência. Não lhe deu resposta. A incapacidade
espiritual de Pilatos (cons. 18:38) tornava inútil qualquer resposta.
10. O silêncio do prisioneiro perturbou o governador. Talvez pensasse que
assegurando-lhe a sua autoridade e explicando que tinha o direito sobre a vida
e a morte pudesse fazer Jesus falar.
11. O expediente só teve sucesso parcial. Jesus falou, mas apenas para lembrar
a Pilatos suas limitações. Autoridade. Cristo devia estar
declarando a verdade evidente do controle divino sobre o estado (Rm. 13:1 e
segs.) mas a ênfase foi dada à situação imediata. Pilatos não podia
fazer nada além de executar a vontade de Deus neste caso. Quem me
entregou. Dificilmente a referência foi a Judas. Maior pecado, isto
é, maior do que o pecado de Pilatos. “O pecado de Caifás foi maior
porque a autoridade de Pilatos vinha de Deus; e era obrigação de Caifás saber e
ensinar, além de fazer a vontade de Deus. Mas ele, o representante oficial de
Israel, o Povo de Deus, recorrera a este pagão, que tinha certa autoridade
concedida por Deus, para que fosse empregado o poder conferido por Deus para a
execução da justiça a fim de que a injustiça fosse perpetrada “ (William
Temple, Readings in St. John's Gospel).
12. Como resultado dessa troca de palavras, Pilatos renovou seus esforços
para soltar seu prisioneiro, levado pelo temor dessa pessoa estranha que estava
diante dele e também pela convicção de que não era merecedor da morte. Os
judeus, sentindo que o governador tomara nova resolução, usaram de argumento
culminante. Não és amigo de César. O imperador reinante era
Tibério, diante de quem Pilatos era responsável. Eis aí uma ameaça de levar o caso
à corte imperial. César não daria pouca importância a uma situação na qual
alguém era conhecido como rei sem o consentimento romano. Teria considerado o
caso como traição e poderia até acusar Pilatos de falta de cumprimento do
dever. Sem dúvida o governador temia que, se houvesse uma queixa quanto a sua
maneira de lidar com o caso, outras irregularidades de sua administração viriam
à luz.
13. Chegou a hora da decisão. Pilatos... sentou-se no tribunal. Tinha agora
de dar o seu veredito. Devido às escavações de Pére Vincent, o Litostrotos (Lithostrôton)
já foi quase identificado como sendo a grande área pavimentada que fazia parte
do Castelo de Antônia, ao noroeste da área do templo. Gábata significa provavelmente “terreno
elevado “
14. Era a parasceve pascal. “A hora do duplo sacrifício
aproximava-se. Era meio-dia. Os cordeiros pascais estavam sendo preparados para
o sacrifício, e o Cordeiro de Deus também foi sentenciado à morte “
(Hoskyns). Eis aqui o vosso Rei! O que fosse que levou Pilatos
a fazer esta apresentação final (provavelmente uma zombaria dirigida aos judeus
– tal rei, tal povo!), foi providencialmente usado para arrancar dos lábios dos
judeus um repúdio completo de sua esperança messiânica – Não temos rei,
senão o César. Se a linguagem humana significa algo, a própria
soberania de Deus sobre a nação foi repudiada. Quem era culpado de blasfêmia
agora?
16. O entregou. O verbo é o mesmo do versículo 11. Os
judeus podiam agora ver sua vontade realizada. Jesus ia ser crucificado. D.
A Crucificação e o Sepultamento. 19:17-42.
17. Carregando sua cruz. Todos os Sinóticos declaram que Simão
Cireneu foi obrigado a levar a cruz. Só João declara que Jesus teve de
carregá-la. A narrativa de Lucas dá lugar para os dois. Jesus começou, mas não
aguentou carregá-la o caminho todo. Calvário. Provavelmente recebeu
o nome por causa de sua aparência; portanto uma colina arredondada. O
equivalente latino é Calvário (Lc. 23:33). Devia ficar fora da cidade (Hb.
13:12).
18. Jesus no meio. Seu lugar era de importância central,
mesmo na morte.
19. Sua posição fica explicada pelo título afixado sobre a
cabeça do crucificado. Mateus e Marcos usam a palavra aitia, que
João emprega três vezes, na sua narrativa do julgamento, com o sentido
de “acusação “. Pilatos não encontrou em Jesus aitia que
autorizasse sua morte, mas agora fez o mundo saber que ali estava – o rei de
Israel, como se envolvesse com isso a nação em provocação a Roma, merecendo
assim esta áspera reprovação.
20-22. A própria publicidade dada ao título (em três línguas) como também a
implicação por trás dele, enfureceu os judeus, de modo que os principais dos
sacerdotes pediam que o título fosse mudado de fato para pretensão. Pilatos
recusou-se a fazê-lo, demonstrando uma irredutibilidade agudamente
contrastante com a sua fraqueza durante o julgamento.
23, 24. Quatro soldados participaram do crucificação (cons. Atos 12:4).
Apossaram-se das roupas de Jesus por despojo, dividindo-as entre si. Sandálias,
turbante, roupas externas (himation), e cinturão foram igualmente
divididos, deixando a capa ou túnica (chitôn) que era
mais valiosa, para ser disputada por meio de sortes. Josefo descreve a veste do
sumo sacerdote em linguagem semelhante à que foi usada aqui (Antig. III, 161).
Já se sugeriu que aos olhos de João, esta túnica sem costura simbolizava o
poder unificante da morte de Cristo assegurando um só rebanho.
Inconscientemente os soldados cumpriram as Escrituras por meio de suas atitudes
(Sl. 22:18).
25-27. Três mulheres, todas chamadas Maria, tomaram lugar perto da cruz, cheias
de tristeza contemplando aquele que lhes era tão querido. O texto grego,
entretanto, é mais favorável à menção de quatro, a irmã da mãe (Salomé, mãe de
João), notada mas não mencionada nominalmente. Se foi assim, essas quatro devem
ter apresentado uma espécie de contraste com os soldados romanos. Solícito por
sua mãe, Jesus entregou-a aos cuidados do “discípulo amado “. Seus
irmãos não eram crentes nessa ocasião. A unidade da Igreja, que o Senhor estava
criando, seria mais espiritual que natural (cons. Mt. 12:50). Tomou
para casa. Se João tinha casa em Jerusalém, explica-se melhor seu
relacionamento com o sumo sacerdote (18:16).
28. Tenho sede. A necessidade física do sofredor
manifestava-se, única indicação externa que Ele permitiu escapar de seus
lábios. Mesmo assim Ele declarou mais um fato que enunciou um pedido.
30. Vinagre. A bebida reanimou as forças de Jesus, capacitando-o
a dizer (com voz forte, segundo os outros Evangelhos), Está consumado. A
mesma palavra (tetelestai) já foi usada no versículo 28, traduzida
para “terminadas “. A ênfase aqui não foi colocada sobre o final dos
sofrimentos mas sobre a consumação da missão redentora. Rendeu o espírito (a
Deus).
31. No sábado. Restou pouco tempo antes do pôr-do-sol e
a chegada do outro dia. Fosse qual fosse o dia, a Lei exigia que as
vítimas fossem retiradas da cruz no dia da morte (Dt. 21:22, 23). Ignorar essa
Lei na Páscoa teria sido uma violação especialmente abominável do sábado.
Quebrar as pernas apressava a morte.
33, 34. O soldado, descobrindo que a morte lhe roubara o prazer de quebrar as
pernas de Jesus, enfiou-lhe a lança num dos lados. Sangue e água. É
um acontecimento bastante crível no período imediatamente subsequente à
morte.
33. João atribui importância singular a este incidente, pois solenemente dá
registro do mesmo. A morte do Salvador foi um fluxo doador de vida: sangue para
purificação do pecado e água para representação da vida nova no Espírito (cons.
I Jo. 5:6-8).
36, 37. Esses aspectos da morte de Cristo também serviram para cumprir as
Escrituras (Sl. 34: 20; Zac, 12:10).
38-40. Na hora da morte de Jesus dois discípulos secretos encontraram a coragem
que não possuíram antes. José obteve permissão de Pilatos para retirar o corpo
da cruz; então veio Nicodemos providenciar os lençóis e aromas a fim de
preparar o corpo para o sepultamento. Para mais informações sobre José, veja
Mc. 15:43.
41. O sepulcro pertencia a José (Mt. 27: 60).
42. Os preparativos para o sepultamento foram apressados porque o dia estava a terminar. Felizmente, o lugar ficava perto do lugar da crucificação. Preparativos mais completos do corpo poderiam ser feitos depois do sábado.
Prof. Abdias Barreto.
988575757.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu Comentário... Assim você estará contribuindo com nossos leitores. Grato!