Interpretação Bíblica de Atos 2.
Atos 2
C. A Vinda do Espírito Santo. 2:1-41.
Há um sentido real no qual
a Igreja tem o seu dia de nascimento no dia de Pentecostes, quando o Espírito
Santo foi dado aos homens de maneira nova para unir os crentes em Jesus através
de um novo relacionamento.
1. Pentecoste, significando o quinquagésimo,
é a palavra grega para a Festa das (sete) Semanas descrita em Lv. 23:15-22, que
celebrava a conclusão da colheita.
2. Todos os 120 discípulos estavam reunidos em um só
grupo e no mesmo lugar – provavelmente o cenáculo
(1:13). De comum acordo é o que diz um texto inferior.
Veio do céu
um som, como de um vento impetuoso. Não foi um vento; tinha o som de um vento. Pneuma pode
ser tanto vento como espírito; e o vento é um símbolo do poder do Espírito e
também de sua invisibilidade (Jo. 3:8). O que eles viram não foram realmente
línguas de fogo mas como de fogo.
3. O sinal visível foi algo que só podia ser comparado
às chamas do fogo que se dividiam em línguas separadas as quais repousaram
sobre cada um dos discípulos. Muitos compreenderam que era o cumprimento da
promessa feita por João do batismo com fogo (Lc. 3:16). Entretanto, não havia
fogo presente no Pentecostes, mas algo como fogo; e o contexto do Evangelho
sugere que o batismo de fogo é o juízo daqueles que rejeitam o Messias – o
queimar da palha com fogo inextinguível.
4. Quando o Espírito Santo foi dado aos homens, os
discípulos foram batizados (1:5) e ao mesmo tempo cheios do Espírito
Santo. O batismo do Espírito foi descrito em I Co. 12:13. É obra do
Espírito Santo reunir pessoas de diversas raças e antecedentes sociais variados
em um só corpo – o corpo de Jesus Cristo, que é a sua Igreja. No sentido
restrito da palavra, Pentecostes foi o dia do nascimento da Igreja. Este
batismo com o Espírito nunca se repetiu. Foi mais tarde estendido aos crentes na
Samaria (Atos 8), aos gentios (caps. 10 e 11), e aos discípulos de João Batista
(19:1-6). O enchimento com o Espírito foi muitas vezes repetido, mas não o
batismo com o Espírito.
5. Os discípulos foram, ao que parece, levados do
cenáculo para um lugar aberto na cidade, possivelmente a área do templo, onde
havia uma multidão reunida. Os homens piedosos eram judeus da
Diáspora, que foram esparsos pelo mundo mediterrâneo mas que retornaram à
Cidade Santa.
6. As outras
línguas (v. 4). Não linguagem de
êxtase religioso. Por meio de um milagre a língua dos apóstolos foi traduzida
pelo Espírito Santo em diversas línguas sem que houvesse um tradutor humano.
Este fenômeno não é o mesmo que a glossolália ou dom de
línguas de I Co. 12 e 14, que eram ininteligíveis até que fossem interpretadas.
Possivelmente o Espírito Santo agia como intérprete no Pentecoste, de modo que
diversos grupos que falaram em línguas diferentes ouvissem a sua própria língua
sem a mediação de intérprete humano.
7. Foi uma coisa espantosa que esses homens cujo
sotaque mostravam que eram judeus galileus parecessem falar muitas línguas
estrangeiras.
9-11. Esses países formavam um circuito à volta de todo o
Mar Mediterrâneo. Muitos desses povos podiam falar o grego popular do mundo
helênico, mas falavam também suas línguas nativas (cons. 14:11). Romanos
que aqui residem. Judeus e gentios convertidos (prosélitos)
vindos de Roma, que estavam temporariamente residindo em Jerusalém.
12,
13. Todos os ouvintes estavam perplexos (cheios
de dúvida) sem entender o que estava acontecendo. A acusação de bebedeira
sugere que além das línguas estrangeiras, havia também o elemento estático
nesse primeiro dom de línguas.
14. Uma grande multidão reuniu-se por causa dessa
agitação (v. 6), provavelmente no pátio externo da área do templo. Pedro
ofereceu uma explicação do que tinha acontecido diante dos seus olhos e então
partiu para uma proclamação do Evangelho, que essencialmente se constituiu no
anunciamento do Messiado de Jesus.
15. Primeiro Pedro acabou com a ideia de que os
discípulos estivessem bêbados, fazendo ver que eram apenas nove horas da manhã
e portanto cedo demais para que alguém estivesse bêbado.
16. Não era nenhum espírito mas o Espírito Santo que se
apossara deles. Pedro citou Joel 2:28-31, que prediz o derramamento do Espírito
Santo sobre Israel na era messiânica. É importante que se observe que uma
profecia que, em Joel, foi dirigida à nação de Israel, cumpria-se agora na
Igreja Cristã. No propósito redentor de Deus, entretanto, Israel também se
inclui no cumprimento desta profecia (Rm. 11:26).
17. Nos
últimos dias não se
encontra na profecia de Joel mas foi acrescentado por Pedro sob divina
inspiração. No V.T. esta frase indica a era messiânica no reino de Deus (Is.
2:2; Os. 3:5). A dispensação do Evangelho é, portanto, um estágio na realização
das bênçãos da dispensação messiânica. No V.T., o Espírito Santo era concedido
principalmente a pessoas que ocupavam posições oficiais na teocracia de Israel
– reis, sacerdotes e profetas. A nova missão do Espírito Santo era repousar
sobre toda a carne, isto é, sobre todo o povo de Deus e não
somente sobre os líderes oficiais. A promessa de que esse novo derramamento do
Espírito resultaria em uma nova manifestação de profecia, visões e
sonhos, cumpriu-se na experiência dos apóstolos e profetas da
dispensação do N.T. Criam os judeus que o Espírito Santo, que inspirava os
profetas do V.T. e suas mensagens, silenciara durante o Período
Inter-Testamentário. Pedro assegurou que o Espírito Santo tornara-se ativo
novamente em uma nova manifestação do propósito redentor de Deus. Isto se vê
nas últimas palavras de Atos 2:18, onde Pedro acrescentou à profecia de Joel a
declaração, e profetizarão. Esta nova manifestação de profecia não
era tanto a previsão do futuro, mas sim a pregação do significado da obra
redentora de Deus através de Jesus, o Messias.
19,
20. A última metade desta profecia de Joel não se
cumpriu nos dias de Pedro como se cumpriu o derramamento do Espírito. O dia
do Senhor. O dia da vinda do Senhor em glória para estabelecer o seu
reino no mundo com poder e glória. Esta consumação final seguir-se-á a um
julgamento que sobrevirá à ordem terrestre e da catástrofe cósmica emergirá uma
nova e redimida ordem da natureza e do mundo (Rm. 8:21). Os últimos dias são,
assim, destacados do Dia do Senhor.
21. Esse derramamento do Espírito Santo ocasionará um
grande dia de salvação, e qualquer um que invocar o nome do Senhor será
salvo.
Senhor em Joel refere-se a Deus, mas Pedro e a igreja
primitiva aplicou-o a Jesus exaltado.
22,
23. Pedro recapitulou a vida e morte de Jesus para
mostrar que não foi mero acidente mas que aconteceu dentro do plano redentor de
Deus. Apesar do fato de Deus ter autenticado o Cristo por meio de milagres,
prodígios e sinais... entre vós os judeus, eles o entregaram às mãos
de iníquos, os romanos, que ignoravam a lei de Deus, para que fosse crucificado
e morto. Apesar de que nem romanos nem judeus foram absolvidos da culpa, a
morte de Jesus aconteceu de acordo com um determinado desígnio e
presciência de Deus.
24. Embora juízes humanos condenassem Jesus à morte,
uma corte mais alta ressuscitou-o dos mortos, uma vez que era impossível que o
Messias permanecesse sob o poder da morte.
25-28. Logo a seguir Pedro provou que a morte do Cristo
fazia parte do plano redentor de Deus, mostrando que fora previsto nas
Escrituras do V.T. Citou o Sl. 16:8-11, uma passagem que no seu próprio
contexto refere-se a Davi e a sua esperança de salvação da morte. Mesmo na
morte, Davi esperava ver a face do Senhor. Por isso Ele podia se submeter à
experiência da morte na esperança de que Deus não abandonaria a sua alma na
morte (Sheol), a habitação dos mortos depois da morte, nem permitira que Ele
visse corrupção da sepultura. Uma vez que Deus é o Deus dos
vivos, apesar do V.T. não revelar plenamente a vida após a morte, Davi estava
confiante que Deus lhe mostraria os caminhos da vida e lhe
proporcionaria a plenitude da alegria da presença divina mesmo depois da morte.
29. O apóstolo tornou claro que esses versículos não
podiam se referir a Davi, uma vez que Davi morreu de fato e experimentou a
corrupção. Na verdade, o seu túmulo podia ser visto ao sul da
cidade de Jerusalém. O salmista, portanto devia estar se referindo a um
descendente de Davi mais importante, ao Messias.
30,
31. Deduz-se que o salmista falou profeticamente de um
dos seus descendentes, o Cristo que se assentaria no trono de
Davi. Nessas palavras de Davi, Pedro encontrou a profecia da ressurreição de
Cristo.
32. A ressurreição do Messias, prevista pelo salmista,
podia ser agora comprovada pela experiência dos apóstolos.
33. Jesus não fora apenas ressuscitado dos mortos; Ele
também foi exaltado, pois, à destra de Deus e dessa posição
exaltada derramou sobre o Seu povo o dom do Espírito Santo profetizado por
Joel.
34,
35. Novamente Pedro citou os Salmos (110:1) para
mostrar que a exaltação de Cristo também estava nas Escrituras proféticas. O
Senhor Deus dissera ao Messias, o Senhor de Davi, que Ele se assentaria à
direita de Deus até que todos os seus inimigos estivessem subjugados. Desses
versículos podemos concluir que Cristo continua entronizado nos céus e no
sentido literal está exercendo o seu reinado messiânico (Ap. 3:21).
36. O coração do Evangelho é este: que Jesus,
ressuscitado dos mortos e exaltado à direita de Deus, foi feito Senhor
e Cristo (Messias). Seu messiado significa senhorio; Ele reina à
direita de Deus como Senhor e Rei. O cumprimento do ofício messiânico
realizou-se de maneira nova e inesperada. O Senhorio de Cristo foi a doutrina
cardinal da cristandade primitiva. Jesus entrou no exercício de Seu Senhorio em
virtude de Sua exaltação (Fl. 2:9-11) e a salvação se encontra confessando que
Jesus é o Senhor (Rm. 10:9).
37. Os ouvintes de Pedro ficaram convencidos e convictos. Compungiu-se-lhes
o coração compreendendo que tinham condenado à morte o Messias de
Deus, e consequentemente perguntaram o que deviam fazer para se livrarem dessa
horrível culpa.
38. Pedro replicou que a misericórdia podia perdoar até
mesmo esse pecado. Era preciso que houvesse uma reação dupla: arrepender-se e
ser batizado em nome de Jesus Cristo. Arrepender-se significa
dar meia-volta e abandonar seus caminhos pecaminosos, confessando a fé em Jesus
como seu Messias. O batismo seria a evidência pública desse espírito de
arrependimento. O resultado seria a remissão dos pecados e a
recepção do dom do Espírito Santo. A recepção do Espírito
Santo não depende do batismo, mas segue-se ao batismo, que é o sinal exterior e
visível de um espírito penitente. Na igreja primitiva os convertidos eram
batizados sem delongas. Assim o batismo e a recepção do Espírito eram
praticamente simultâneos.
39. Essa nova era de bênçãos messiânicas, explicou Pedro,
concederia o Espírito Santo não apenas aos líderes tais como profetas,
sacerdotes e reis, mas sobre todos os que se arrependessem, sobre seus
descendentes e até sobre os de fora da família de Israel, a todos quantos Deus
chamasse para a salvação.
O dom do
Espírito Santo. O dom do
próprio Espírito, não algum dom que o Espírito concede.
40,
41. O apóstolo, logo após, exortou seus ouvintes a
salvarem-se desta geração perversa, que condenara Jesus à
morte, aceitando o seu apelo de arrependimento e o seu testemunho de que Jesus
era o Messias deles. O resultado foi que cerca de três mil pessoas aceitaram
sua palavra e foram batizadas professando sua fé e foram acrescentadas à
comunidade do pequeno círculo de crentes. Não há nenhuma indicação de que os
apóstolos tenham imposto as mãos sobre esses novos convertidos para que eles
recebessem o Espírito Santo.
D. Vida da Igreja Primitiva. 2:42-47.
Agora Lucas dá um pequeno
resumo da vida e caráter da primitiva comunidade cristã.
42. A
doutrina dos apóstolos ou seus ensinamentos.
Os ensinamentos do Senhor, com a proclamação de Sua vida, morte e ressurreição,
mais o seu significado para a salvação do homem. Estes ensinamentos eram
tradição de autoridade na igreja primitiva e mais tarde foram incluídos em
nosso Novo Testamento. Esses crentes primitivos encontravam deleite em
terem comunhão uns com os outros, particularmente no partir
do pão (que provavelmente consistia de uma refeição fraternal, com a
Ceia do Senhor) e em regulares períodos de oração em conjunto.
43. O caráter da comunidade cristã primitiva despertou
no povo um sentimento de reverência, que era reforçado pelos muitos milagres
realizados pelos apóstolos.
44,
45. Tão devotados eram uns aos outros os membros dessa
primeira comunidade cristã que os crentes ricos vendiam suas propriedades para
suprir as necessidades dos membros pobres.
O amor cristão
manifestou-se num programa social de assistência material aos pobres. Essa
atitude cristã de partilhar com os outros parece que se limitou aos primeiros
anos da igreja de Jerusalém e não se estendeu às novas igrejas conforme o
Evangelho foi sendo levado através da Judeia.
46. Os crentes ainda eram judeus e continuavam a
realizar o seu culto diário a Deus no Templo, de acordo com os costumes
judaicos. Não houve pensamentos da parte dos judeus crentes, de se apostatarem
do judaísmo e assim estabelecerem um movimento à parte. Sua comunhão cristã
manifestou-se particularmente nas refeições tomadas em comum, de casa em casa.
O gozo e a generosidade de coração eram duas características salientes daqueles
crentes.
47. Nem todos os judeus receberam o testemunho do messiado do Jesus ressurreto, mas até mesmo aqueles que o rejeitaram olhavam para a comunidade dos primeiros cristãos com grande favor. O resultado foi que o Senhor acrescentava diariamente à nova comunidade aqueles que aceitavam o testemunho, e a comunidade cristã os recebia como irmãos.
Prof. Abdias Barreto. 85.988575757.
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