Interpretação Bíblica de Atos 7
Atos 7
1. O sumo
sacerdote e presidente do Sinédrio
ainda era Caifás, que presidira o julgamento e a condenação de Jesus.
2. O discurso de Estêvão que se segue não foi
realmente uma refutação das acusações apontadas contra ele mas antes uma
afirmação positiva do testemunho de Jesus Cristo e do Evangelho. Estêvão não
tentou mostrar que as acusações contra ele eram falsas. Pelo contrário, ele
apresentou a sua convicção de que o Templo e a terra da Palestina não eram
necessárias para uma verdadeira adoração a Deus. Esboçou um pequeno resumo da
história de Israel para mostrar: a) que Deus abençoara seus pais mesmo quando
esses homens não viviam na terra da Palestina; b) que durante muito tempo na
história de Israel os judeus não adoraram a Deus no Templo; c) e que mesmo
possuindo o Templo Israel continuou sendo rebelde e desobediente a Deus. O
propósito desse discurso foi o de mostrar, na história de Israel, que a posse
do Templo não era nem uma necessidade nem uma garantia para a verdadeira
adoração a Deus. E isto serviu para substanciar o ponto principal, que tendo
vindo o Messias, a adoração dos judeus no Templo em Jerusalém estava ultrapassada.
Deus não chamou Abraão na
Terra Prometida mas quando se encontrava distante, na Mesopotâmia.
Estêvão referiu-se a uma visita divina enquanto Abraão ainda se encontrava na
Mesopotâmia, do que resultou sua ida a Harã, onde morou durante algum tempo e
de onde partiu mais tarde para a Palestina. Gênesis 11:31, 32 não registra essa
primeira visitação divina; mas Gn. 15:7 e Ne. 9:7 ambas indicam que a chamada
divina a Abraão foi feita originalmente em Ur dos Caldeus na Mesopotâmia.
5. Embora Abraão habitasse na terra da Palestina, na
realidade não possuiu a terra, mas apenas a considerou uma promessa de Deus a
ele e seus descendentes. A bênção de Abraão, portanto, não dependia da posse da
terra mas da promessa de Deus.
6, 7. Os descendentes de Abraão não possuíram a terra
imediatamente, mas passaram quatrocentos anos no cativeiro fora da
Palestina. Quatrocentos anos é um número redondo (cons. Gl.
3:17, onde o período é de 430 anos).
8. Deus fez a aliança com Abraão e seus descendentes,
dando-lhes o sinal da circuncisão como selo do acordo. Essa bênção da aliança,
Estêvão inferiu, não dependia da existência do Templo mas das promessas e
fidelidade de Deus.
9, 10. Mesmo quando os patriarcas venderam José...
para o Egito, Deus não o abandonou por se encontrar fora da terra, mas
concedeu-lhe um maravilhoso livramento, fazendo dele o governador
daquela nação e da casa de Faraó.
11-15. Quando houve uma grande fome no Egito e na
Palestina, Deus concedeu a José a visão de reservar mantimentos no Egito para
preservação dos patriarcas. Jacó e sua família emigraram para o Egito, onde
foram protegidos por José. O número setenta e cinco segue a
septuaginta com a tradução grega do V.T.; o número setenta em Gn. 46:27 e Êx.
1:5 é do texto hebraico. Esses dois textos refletem duas maneiras de se contar
a família de Jacó.
16. Embora os patriarcas morressem no Egito, seus
corpos foram levados de volta à Palestina e foram sepultados na terra que Deus
prometera a Abraão e sua semente.
17-
43. Estêvão fora acusado de blasfêmia contra Moisés. Ao
contar a história de Moisés e da Lei, ele mostrou que a posse da Lei não
protegeu Israel da rebelião contra Deus.
17. Ao se aproximar o tempo em que Deus prometera tirar
os patriarcas do Egito para lhes dar a terra de Canaã, o povo não sentiu
inclinação para deixar o Egito, onde estava aumentando e prosperando.
18,
19. Então Deus levantou outro rei no
Egito que não continuou dispensando favoritismo a José e sua família, mas que
tratou os israelitas fraudulentamente, compelindo-os a destruir todas as suas
criança por abandono.
20,
21. Moisés, que nasceu nessa ocasião, era formoso aos
olhos de Deus. Quando, após três meses, seus pais tiveram de enjeitá-lo, a
filha de Faraó... criou como seu próprio filho dentro da família real.
22. Como filho da filha de Faraó, Moisés recebeu a
melhor educação que havia no Egito, tornando-se um jovem eloquente e de ação
vigorosa.
23. Depois de chegar à idade adulta, Moisés tomou a
decisão de deixar o palácio de Faraó a fim de visitar seu povo. Ao que parece,
durante esses quarenta anos, não teve nenhum contato com o seu povo, vivendo
como um egípcio na casa de Faraó.
24,
25. Quando viu um dos israelitas sendo maltratado,
tomou a sua defesa e, feriu o egípcio, matando-o. Moisés pensou que os seus o
reconheceriam como enviado por Deus para libertá-los; mas eles não reconheceram
este fato.
26. No dia seguinte, quando Moisés encontrou dois
israelitas brigando, tentou reconciliá-los, destacando que eram irmãos e
portanto não deviam brigar entre si.
27,
28. O agressor rejeitou fortemente a sugestão de paz
feita por Moisés. Acusou-o de intromissão e de querer suborná-lo para esconder
o crime que cometera contra o egípcio no dia anterior.
29. Quando Moisés viu que era conhecido como assassino
de um egípcio em defesa dos israelitas, fugiu do Egito e tornou-se peregrino em
Midiã, ao noroeste da Arábia. Casou-se ali e teve dois filhos.
30. Foi aí no Monte Sinai, longe da Terra Prometida e
sem nenhum templo, que Deus se revelou maravilhosamente a Moisés.
31,
32. A princípio Moisés não compreendeu o que
significava a sarça ardente. Então Deus lhe falou, revelando-se como o Deus dos
patriarcas. A voz do Senhor encheu Moisés de temor, de modo que nem se atreveu
a olhar para a sarça ardente.
33. Esse desolado lugar no deserto foi transformado em
lugar santo porque Deus apareceu ali. Consequentemente Ele ordenou a Moisés que
removesse seus sapatos em sinal de reverência. Onde quer que Deus apareça e
fale aos homens, o lugar é santo.
34. Deus assegurou a Moisés que não esquecera o Seu
povo, ainda que estivesse no Egito, e que logo cumpriria Suas promessas,
libertando os israelitas.
35. Deus inverteu o julgamento dos irmãos de Moisés.
Zombaram dele porque pensavam que estivesse tentando agir como autoridade
e juiz; Deus fez de Moisés um chefe e libertador do seu
povo no Egito. Libertador dá a ideia de redentor.
36. Essa redenção foi realizada com demonstração
de prodígios e sinais no Egito, na travessia do Mar Vermelho e
nos quarenta anos de viagem do Egito à Terra Prometida.
37. A experiência de Moisés apenas foi uma sombra
dAquele maior que viria depois dele. Pois Moisés previu a vinda de um outro
profeta, a quem Israel deveria dar atenção (Dt. 18:15, 18, 19).
38. Sob a liderança de Moisés, Israel foi um tipo da
Igreja. A palavra grega para igreja, ekklésia, foi usada em Dt.
18:16 descrevendo Israel na posição de congregação de Deus.
O
anjo. O anjo particular do
Senhor que representa Deus e torna Sua presença real aos homens. Moisés recebeu
também oráculos vivos de Deus, isto é, a Lei do V.T. (Êx. 20). Todas essas
bênçãos o povo de Israel desfrutou da mão de Deus enquanto ainda se encontrava
no deserto fora da terra e sem um templo.
39. Apesar dessas bênçãos vindas da mão de Deus, os
israelitas não obedeceram a Deus, rejeitaram a Moisés e quiseram voltar ao
Egito. 40. Quando Moisés se encontrava na montanha, o povo
exigiu que Arão fizesse ídolos para serem adorados. Em vez de adorarem a Deus,
seu Criador, adoraram um bezerro de ouro que eles mesmo fizeram (Êx. 32:16,
18). Dera como desculpa o fato de Moisés ter desaparecido e que não sabiam o
que lhe tinha acontecido.
41. Estêvão estava sob a acusação de blasfêmia contra
Moisés. Sua exposição da história mostrou que os antepassados dos seus
acusadores, eles mesmos falharam em guardar a lei de Moisés e rejeitaram a
ordem divina de adoração para adorarem ídolos.
42. Essa tendência para a idolatria, refletiu-se
através de todo o curso da história de Israel, chegou ao seu clímax no
cativeiro da Babilônia, quando Israel imitou seus vizinhos adorando os planetas
dos céus como se fossem divindades (Dt. 4:19; 17:3; II Reis 21:3, 5; 23:4, 5;
Jr. 8:2; 19:13; Sf. 1:5). Deus abandonou Israel a esta adoração pagã idólatra.
Estêvão citou Amós 5:25-27 para dar um exemplo da apostasia de Israel. A
diferença entre a passagem de Amós e a de Atos nas versões em português deve-se
ao fato de que Estêvão citou a tradução grega do V.T., a qual neste ponto se
desvia do original hebreu. Estêvão mostrou que os sacrifícios oferecidos a Deus
eram apenas formas externas e não possuíam nenhuma realidade espiritual (cons.
Is. 1:10-14, onde Deus rejeita os sacrifícios do seu povo porque não vinham de
um coração obediente.)
43. Moloque
e Renfã eram duas divindades
associadas às estrelas. A idolatria dos judeus com o bezerro no Sinai e sua
adoração a Deus, formal e não espiritual, através dos sacrifícios no deserto,
levou-os afinal à adoração das divindades astrológicas pagãs. Por causa dessa
apostasia, eles atraíram o juízo de Deus na forma do cativeiro além da Babilônia.
44,
45. A apostasia de Israel ocorreu apesar do fato de
Deus lhe dar uma testemunha evidente. No deserto, Deus ordenara a Moisés que
construísse um tabernáculo ou tenda, que seria uma testemunha
da presença de Deus no meio deles (Êx. 25:9, 40; 26:30; 27:8). Os patriarcas
introduziram com eles este Tabernáculo na Terra Prometida sob a liderança de
Josué. (A trad. gr. de Josué é Jesus.) Deus
expulsou as nações da terra (a palavra gr, significa tanto gentios como
nações), para que Israel pudesse possuí-la.
46,
47. Por muitos anos depois de entrar na terra, Israel
não teve templo mas continuou adorando a Deus no Tabernáculo. Morada neste
versículo é uma palavra diferente da que foi empregada em 6:44. Davi, um homem
segundo o coração de Deus, quis providenciar uma habitação para Deus; mas esse
privilégio foi retardado até os dias de Salomão.
48-50. Agora Estêvão declarou enfaticamente que o Altíssimo não
pode ser limitado a estruturas construídas pelo homem, porque Ele enche o mundo
inteiro, e não existe um tipo de casa que possa contê-lo.
51,
52. Se o Templo não é necessário para se adorar a Deus,
não é também uma garantia que os homens, nele, adorarão a Deus corretamente.
Estêvão acusou aqueles que adoravam no Templo de serem duros e incircuncisos
de coração e de ouvidos, de resistirem ao Espírito Santo, e de traírem
e matarem o Justo, seguindo assim o exemplo de seus rebeldes
antepassados. Estêvão fora acusado de blasfemar contra a lei de Moisés. Sua
resposta foi que na realidade não era ele que era culpado desse pecado mas o
povo judeu, que desde os tempos de Moisés transgredira a Palavra de Deus. Ele
fora acusado de blasfemar contra Deus por rejeitar o Templo. Sua resposta foi
que a história de Israel provou por si mesma que o Templo era apenas uma
instituição temporária e não era essencial para a verdadeira adoração a Deus.
54. Quando Estêvão acusou os judeus de blasfêmia, eles
se encheram de raiva incontrolável. Rilharam os dentes. Sinal
de raiva (Jó 16:9; Sl. 35:14).
55,
56. Estêvão não se perturbou com a ira do Sinédrio. A
essa altura, Deus lhe concedeu uma visão dos céus abertos com o Filho
do homem em pé à Sua direita. As palavras de Estêvão foram, na
realidade, uma declaração de que as palavras que Jesus recentemente proferira,
diante desse mesmo corpo judicial, de ser o Filho do homem, não eram blasfemas,
como o Sinédrio proclamara, mas eram a verdade de Deus (Mc. 14:62). Estêvão
declarou que realmente Jesus estava agora à direita de Deus na qualidade de
Filho do homem.
Jesus costuma ser descrito
como assentado à direita de Deus (Sl. 110:1; Hb. 1:13). É possível que aqui Ele
esteja representado como levantando-se do Seu trono para receber este mártir. O
nome Filho do homem não designa a humanidade de Jesus; é um
título messiânico, com base em Dn. 7:13, 14, e designa o Messias como ser
celestial e sobrenatural. Este é o único lugar fora dos Evangelhos onde o
título foi aplicado a Jesus.
57-58. Não está de todo claro se o martírio de Estêvão foi
o resultado de uma execução formal ou um linchamento. Uma execução legal exigia
a aprovação do governador romano, e considerando que isso não foi obtido, a
morte de Estêvão parece um linchamento. Entretanto, a menção de testemunhas
formais conforme exigia a Lei (Lv. 24:14; Dt. 17:7) dá a ideia de uma execução
legal. É possível que o Sinédrio executasse Estêvão sem obter a aprovação
oficial de Pilatos. Estêvão foi conduzido para fora da cidade para o lugar de
execução e foi apedrejado. As testemunhas eram os executores
oficiais. Saulo, que mais tarde se tornou o apóstolo Paulo, foi um
observador da execução e ficou junto às roupas dos executantes. Saulo foi
subitamente introduzido na narrativa sem explicações.
59, 60. Morrendo, Estêvão invocava a Jesus exaltado como Deus mesmo e orava para que Jesus recebesse o seu espírito. As suas palavras finais consistiam em uma oração de perdão para os seus executores. Adormeceu é a metáfora bíblica comum para o fenômeno da morte.
bibliotecabiblica.blogspot.com
Prof. Abdias Barreto. 85.98857-5757.
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