Interpretação Bíblica Evangelho de João.
João
5
G.
A Cura do Homem Aleijado. 5:1-16.
Tanto a ocasião como o
lugar deste milagre tem sido muito discutido. Se essa festa dos judeus era a
Páscoa, então quatro dessas festas foram mencionadas em João, fazendo o
ministério estender-se aproximadamente de três anos e meio a quatro, desde que
João as cita todas (as outras são 2:23; 6:4; 11:55). Uma vez que as melhores
autoridades em manuscritos deixam de colocar o artigo definido, provavelmente a
festa era alguma outra e não a Páscoa. O lugar do milagre já pode ser
identificado atualmente, com alguma confiança, devido a escavação, em 1888, de
um tanque igual ao descrito por João, localizado a nordeste de Jerusalém, perto
da Igreja de Santana. As diversas variantes do nome do tanque nos manuscritos
são desnorteadas. Betezata parece autêntico. Provavelmente significa "Casa
das Oliveiras".
2-4. Os cinco alpendres
ou varandas, agora descobertos, abrigavam um grande número de doentes, alguns
cegos, outros coxos, outros ressecados, isto é, paralíticos. Estavam ali com
esperança de serem curados quando a água se mexesse. Embora nossos manuscritos
tradicionais não considerem o final do versículo 3 e todo o versículo 4 como
parte do original texto de João, esta porção se refere a uma tradição antiga.
J. Rendel Harris encontrou, em diversos lugares do Oriente, evidências de uma
superstição no sentido de que, no Ano Novo, esperava-se um anjo que agitava as
águas de certas localidades, capacitando uma pessoa a obter a cura se fosse a
primeira a entrar na água depois desse movimento. Com base nisso considerou a
festa mencionada neste capítulo como sendo a do Ano Novo (também Westcott. Veja
J. Rendel Harris, Side Lights on New Testament Research, págs. 36-69). As
ruínas da Igreja de Santana incluem a figura de um anjo, comprovando esta
crença e o costume de se buscar a cura nessas circunstâncias especiais.
5-7. Nada há que
indique a natureza exata do mal que tomara conta deste homem doente por tantos
anos, exceto que não podia movimentar-se sem ajuda. Não nos parece que ele
tenha ficado ali todo esse tempo. Antes, era trazido quando o movimento da água
era esperado. Jesus, sabendo. Uma vez que nada se diz sobre a transmissão de
informações pelos outros concluímos que aqui, tal como no caso de Natanael e da
mulher de Sanaria, Jesus discerniu o verdadeiro estado de coisas por meio de
seu próprio poder de percepção.
Queres ser curado?
Neste caso Jesus tomou a iniciativa. A pergunta não era inútil, pois muitas
pessoas cronicamente inválidas não têm esperanças de cura. Outras usam sua
enfermidade como meio de despertar simpatia, não desejando realmente serem
curadas. Este homem doente queria ser curado, mas não tinha os meios (v. 7). 8,
9. Três ordens dadas por Jesus envolvem a comunicação da força. A cura foi
instantânea. Leito. Colchão ou esteira.
10-13. Rapidamente a
cura tornou-se assunto de discussão, porque fora realizada no sábado. Os
judeus. Neste caso, não o povo comum, mas seus líderes (cons. 1:19). Parece que
viram o homem caminhando pelas ruas a caminho de sua casa, carregando sua
esteira. Isso violava o descanso do sábado (Jr. 17:21). Na sua confusão, o
homem já curado só podia explicar que o seu benfeitor mandara que assim fizesse
(Jo. 5:11). Não era capaz de identificar quem o curara, pois não lhe perguntara
o nome, e agora parecia impossível descobrir, pois Jesus já abandonara o
cenário.
14-16. Não sendo
culpado de violação intencional da Lei, o homem curado recebeu permissão de
seguir o seu caminho. Mais tarde foi ao Templo para dar graças por sua cura.
Ali Jesus o encontrou e o advertiu.
Não peques mais, para
que não te suceda coisa pior. A cura física nas mãos de Jesus pode incluir
perdão de pecados (cons. Mc. 2:9-12). Esse perdão não deve ser aceito
levianamente. A coisa pior fica indefinida, e a advertência torna-se mais
atuante por causa disso. Retornando aos judeus, o homem identificou Jesus como
sendo a pessoa que o curou, provavelmente não porque estivesse ofendido com a
advertência de Jesus, mas porque sentia-se na obrigação, como membro da
comunidade, de fornecer uma informação procurada pelas autoridades. Isso levou
os líderes a perseguirem Jesus. Para eles estava claro que transgredira a lei.
Violara o sábado. Estas coisas não está definido. O verbo é "ele estava
fazendo", sugerindo que havia ainda outros agravos. As palavras procuravam
matá-lo carecem de suficientes provas documentadas.
H.
A Auto-defesa de Jesus. 5:17-47.
O discurso abaixo trata
da autoridade de Jesus, a qual ele estabelece em seu relacionamento especial
com o Pai.
17, 18. Já que o
trabalho era motivo de discórdia, Jesus aponta para Deus como exemplo de
trabalhador constante. Embora o Pai descansasse de sua atividade criadora (Gn.
2:2), ele tem de trabalhar para sustentar o universo. Ele também tem de
trabalhar para introduzir a nova criação. O significado parece ser que durante
todo o tempo em que o Pai esteve trabalhando, o Filho também esteve. Era uma
declaração maior do que afirmar que o Pai esteve trabalhando e que agora o
Filho assumia a responsabilidade. Os judeus notaram a implicação. Jesus
declarava que Deus era o Seu Pai, proclamando assim sua igualdade com Deus. Era
pior do que trabalhar no sábado. Tal blasfêmia exigia morte (cons. Jo. 7:30).
19, 20. Este discurso
continuou sem aparente interrupção da parte dos judeus. Não havia nenhuma
arrogância às declarações de Jesus que eram equilibradas por uma completa
dependência e subordinação ao Pai. Isto é a verdadeira filiação, salienta
Jesus, aprender do Pai e reproduzir o que foi visto (v. 19). A percepção do
Filho é ampliada pela revelação que o Pai lhe dá do significado de tudo o que o
Pai faz. Para demonstrar a realidade do relacionamento entre os dois, maiores
obras do que estas (a cura do aleijado e sinais semelhantes) serão realizadas.
21-24. Uma dessas
maiores obras é a ressurreição dos mortos (v. 21). Sem sombra de dúvida é uma
obra tão criativa quanto a original transmissão de vida. Se o Filho tem o poder
de ressuscitar a quem Ele quer, participa do poder do Pai.
O juízo é uma pequena
esfera na qual se manifesta a autoridade divina. Essa função foi transferida
para o Filho. Observe que a ressurreição e o juízo são funções escatológicas
intimamente relacionadas, das quais o ministério de Cristo apresentou relances,
como por exemplo a ressurreição de Lázaro e o juízo de Satanás (16:11). Por
trás dessa participação de autoridade está o plano de que o Filho receberá
honras iguais ao Pai. Recusá-lo é desonrar o Pai (5:23). Os dois temas: 1) vida
que vem da morte e 2) o juízo, são agora reunidas (v. 24); mas aqui a
ressurreição é espiritual, não física, isto é, participação da vida eterna. É
preciso que se creia nAquele que enviou o Filho, não no sentido de ignorar o
Filho, mas percebendo-se que a fé no Pai e no Filho são indivisíveis.
25-30. Jesus expande o
seu poder para produzir reavivamento espiritual (vs. 25, 26) . Essa obra pertence
ao futuro, Ele diz, mas também já chegou está sendo efetuada (observe contraste
com o v. 28).
Os mortos, neste caso,
não são os que estão nas sepulturas, como no versículo 28, mas os mortos no
pecado. Seu reavivamento vem por meio da voz do Filho de Deus (cons. v. 24 –
quem ouve a minha palavra; 6:60; 18:38). Em nada o Filho é independente do Pai,
nem mesmo na questão fundamental da vida propriamente dita (5:26). Novamente
Cristo apresenta sua autoridade de juízo (v. 27).
Filho do homem está
sendo usado aqui como em Dn. 7:13, em relação ao juízo e domínio. É um termo
escatológico técnico, indicando mais do que humanidade, mas incluindo-a. Como o
Senhor da ressurreição, Jesus convocará todos das sepulturas (cons. Atos
24:15). À vista de Ap. 20:4, 5, temos de pensar em um intervalo de tempo entre
essas duas fases da ressurreição. Fazer o bem inclui ter fé no Filho de Deus,
assim como fazer o mal inclui a rejeição do Filho e suas declarações.
Juízo. (Condenação na
ERC.) O versículo seguinte (Jo. 5:30) é transicional, retendo a menção de juízo
do contexto recente e antecipando, pelo uso da primeira pessoa do pronome, o
material que vem a seguir. O Filho somente tem este relacionamento especial com
o Pai.
31-40. Nesta passagem o
tema predominante é o testemunho. Se Jesus desse testemunho de si mesmo, Ele
diz, isoladamente ao testemunho do Pai, seria falto porque incompleto e sem
garantia. Ele não esperaria ser aceito pelos judeus. Mas o seu testemunho
realmente não é desse tipo (cons. 8:18). Outro presta testemunho, o próprio
Pai. Infelizmente os judeus não reconheceram o testemunho do Pai (cons. 7:28;
8:19), e portanto ficaram incapacitados de reconhecer o apoio que Ele dava às
declarações de Jesus (5:32). Uma segunda testemunha foi João Batista, que foi
procurado pelos próprios judeus por causa do seu testemunho (1:26; 3:26). Este
testemunho estava de acordo com a verdade, como a descida do Espírito sobre
Jesus comprovou. Por mais útil que tal testemunha possa ter sido, levando
outros a avaliarem-no corretamente, Jesus não contou com ela como sendo
necessária para tomar consciência de sua pessoa e missão (5:34).
Mas a palavra de João,
reconhecida por Jesus, tinha a intenção de ajudar aquelas pessoas a serem
salvas, Jesus caracteriza João aqui como a lâmpada que ardia e alumiava.
Ardendo, ele gradualmente se desvaneceu (3:30), mas iluminado, ele capacitou os
homens a verem a sua necessidade de uma Luz maior (cons. 1:8). Como tal, seu
testemunho permaneceu depois dele. Por algum tempo. A popularidade de João não
durou muito. Uma terceira testemunha de Jesus encontra-se em suas obras, as
quais o Pai lhe deu para realizar a fim de que autenticassem sua divina missão
(v. 36) . Realizasse. Nada experimental ou incompleto. As obras prepararam o
caminho para a obra, que agora sabemos foi realizada no Calvário e a qual não
necessita de correção.
Como parte da
testemunha mais importante, nosso Senhor inclui o testemunho do Pai contido nas
Escrituras (5:37-40). Este Ele distingue claramente do testemunho imediato que
o Pai deu dEle (v. 32) . A inacessibilidade de Deus, devido a sua
espiritualidade (v. 37) foi sobrepujada em considerável degrau por meio da
revelação dEle mesmo nas Escrituras do V.T. Mas essa palavra não se enraizara
nos ouvintes de Jesus. A prova permanece no fato de que não receberam aquele de
quem a Palavra fala (5:38).
Examinais tanto pode
ser indicativo como imperativo, neste exemplo, mas o sentido da passagem
favorece o indicativo. Os judeus tinham o hábito de examinar as Escrituras
porque reconheciam que elas continham o segredo da vida eterna. Conhecimento da
Lei era o alvo da piedade judia; assim, a Palavra escrita tendia a se tornar um
fim em si mesma. Mas as Escrituras testificam de uma pessoa! A tragédia era que
aquela mesma Pessoa estava agora presente, e os homens religiosos não vinham a
ela buscar a vida que buscaram em vão na letra da Palavra (v. 40).
41-47. Jesus não queria que os homens cressem nEle simplesmente para que Ele recebesse a glória (v. 41) . A palavra grega é doxa, freqüentemente traduzida glória. O motivo básico para a falta de reação diante dEle e Suas declarações era a falta de reação diante de Deus. Eles careciam do amor de Deus, isto é, amor a Deus. Considerando que Jesus viera em nome do Pai, essa falta de amor a Deus tornava impossível que vissem que Ele e o Pai eram um, e que O recebessem. Se alguém viesse em seu próprio nome, não repousando, como Jesus, na autoridade do Pai, ele teria pronta resposta (v. 43). Isto provavelmente não foi dito com a intenção de profetizar a vinda de alguma figura, mas foi dito para apontar um princípio envolvendo a natureza pecadora do homem. Os judeus eram culpados de buscar honra e glória de uns e outros (cons. 12:43), e não de Deus, que é a única fonte de reconhecimento verdadeiro e permanente. A missão de Jesus não foi de acusar e julgar. Isto era desnecessário de qualquer forma no caso de seus ouvintes, porque um acusador existia em Moisés. Os judeus puseram confiança sem limites no que Moisés escrevera (v. 45), mas no ponto principal eles não criam de maneira nenhuma, pois falharam em receber os avisos proféticos de Moisés referentes a Cristo. Aqui devemos pensar não simplesmente em passagens individuais, tais como Dt. 18:15- 18, mas da própria imperfeição da revelação sem Aquele que vinha, e da condenação da Lei, que exigia um Salvador. A revelação escrita e a revelação pessoal são basicamente a mesma coisa (v. 47).
Prof. Abdias Barreto.
85.988575757.
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