Interpretação Bíblica Evangelho de de João 13
João 13
A. O Lava-Pés. 13:1-17.
Dos Sinóticos ficamos sabendo como Jesus enviou dois dos Seus discípulos
para prepararem o cenáculo para a festa e como planejou comungar com eles (Lc.
22:7-13).
1. Ora, antes da festa da Páscoa. Surgem as
perguntas. A refeição no cenáculo foi uma refeição de
confraternização, ou foi realmente a Páscoa? Em duas outras passagens João
parece dizer que a Páscoa não tinha ainda chegado (13:29; 18:28). Os Sinóticos
tornam claro que Jesus e os discípulos comeram a Páscoa. Esta disposição em
João pode representar um protesto contra a observância oficial dos judeus neste
dia, tendo por base um calendário diferente, de acordo com a prática da seita
Qumran (Matthew Black, "The Arrest and Trial of Jesus and the Date of the
Last Supper", no New Testament Essays: Studies in Memory of T. W. Manson,
ed. por A.J.B. Higgins, págs. 19-33). Outra possibilidade é que as referências
em João 13:29 e 18:28 feitas à Páscoa no futuro devem ser explicadas como
referências à Festa dos Pães Asmos, a qual às vezes era chamada de Páscoa (Lc.
22:1). Ela começava imediatamente após a Páscoa e durava uma semana. Mesmo
assim, a refeição aqui mencionada parece ter se realizado antes da Páscoa,
quer fosse ou não a devida observância da festa anual. Hora.
Considerada aqui não do ponto de vista do sofrimento mas de vindicação e
retorno ao Pai (cons. 19:30; Lc. 23:46).
Amou-os até ao fim. Ou, no fim (à conclusão dos dias da preparação
e antecipação). Esta expressão (eis telos) também pode significar
"ao máximo" (cons. I Tes. 2:16).
2. Durante a ceia. Outra tradução, largamente
adotada atualmente, diz, enquanto a ceia se realizava. A
atitude de Jesus de lavar os pés dos discípulos se encaixaria melhor do que
depois. O amor de Jesus faz agudo contraste com o ódio de Satanás e Judas.
3. Possuindo o conhecimento de Sua autoridade, Sua origem
divina e Sua volta certa ao Pai, Jesus não fugiu à humilde tarefa. Este é o
caráter do espírito da Encarnação.
4, 5. O material necessário para o lava-pés estava ali (cons. (Lc. 22:10),
mas não havia servo (Jesus solicitara completo isolamento). Um dos discípulos
poderia ter-se oferecido para fazê-lo, mas todos eram orgulhosos demais. A esta
altura estavam discutindo qual deles seria o maior (Lc. 22: 24).
6. Não se pode determinar se Cristo aproximou-se de
Pedro em primeiro lugar. O que está claro é o sentimento de indignidade de
Pedro para aceitar que o Senhor executasse tal serviço para ele. Os
pronomes tu e mim são enfáticos.
Corajosamente o discípulo declarou o que pensava.
7. Na resposta de Jesus há uma ênfase parecida
sobre o eu e tu (sabes). Agora... depois. Nenhuma referência
ao Céu ou aos acontecimentos da noite, mas à iluminação do Espírito mais tarde.
8. Mais impressionado com a injustiça da situação do que
com o seu significado oculto, Pedro insistiu em que Jesus não lhe lavasse os
pés. Mas a réplica do Senhor elevou o ato da condição de simples serviço servil
para uma de significado espiritual. Não ser lavado por Cristo é estar impuro, é
não ter parte com Ele.
9. A alternativa de ser separado de Cristo era muito pior para Pedro do
que a vergonha de ser servido dessa maneira por seu superior. Eis porque a
impulsiva inclusão de mãos e cabeça. Todas as outras partes estavam incluídas,
é claro. Pedro não queria que nada ficasse excluído de ser lavado.
10, 11. Pedro precisava saber que a virtude do lavar não era quantitativa,
pois O ato era simbólico da purificação interior. Banhou (de louô)
indica um banho completo.
Lavar... pés. Aqui a palavra é niptô,
apropriada para a lavagem de porções individuais do corpo, tal como
na narrativa anterior. A lavagem da regeneração torna uma pessoa limpa à vista
de Deus. Isto está simbolizado no batismo cristão, que só se administra uma
única vez. Purificação posterior das manchas de impureza não substitui a
purificação inicial mas só tem significado à luz dela (cons. I Jo. 1:9).
Estais limpos, mas não todos. A referência é a Judas. Jesus sabia o que
havia no seu coração e quais eram seus planos (cons. 6:70, 71). Com referência
a limpos, veja 15:3. Judas não era um homem regenerado.
12. Compreendei o que vos fiz? O lado divino do ato já foi explicado
em termos de purificação, mas o lado humano precisava ser apresentado – o ato
como símbolo do que os discípulos tinham de fazer uns pelos outros.
13, 14. Se o seu superior, que era Senhor e Mestre (professor), estava
pronto a realizar esta tarefa para eles, é claro que deviam fazê-lo uns pelos
outros. Humildade não é abnegação essencialmente, mas desinteresse próprio em
serviço dos outros.
15. O exemplo. Isto exclui qualquer pensamento de que o lava- pés seja
uma ordenança. As Escrituras silenciam sobre a prática, salvo na qualidade de
um serviço ministrado por causa do amor na questão da hospitalidade (I Tm.
5:10).
B. O Anúncio da Traição, 13:18-30.
Judas estivera na mente do Senhor mesmo durante o lava- pés (vs. 10, 11)
. Agora já não era mais possível esconder a revelação de que haveria uma
traição. Com grande sabedoria Jesus logrou que Judas soubesse que Ele estava
cônscio de suas intenções e que o excluía de Sua companhia. Assim ele forneceu
o tipo de atmosfera adequada para continuar com Seus ensinamentos.
18. Não falo a respeito de todos vós. Judas não
poderia lucrar com o exemplo dado no lava-pés.
Eu conheço aqueles que escolhi – inclusive Judas. As Escrituras já tinham
declarado de antemão a traição deste homem (Sl. 41:9). O versículo não foi
citado todo, pois a primeira metade não era aplicável.
19. Qualquer tentação da parte dos outros discípulos para
duvidar da sabedoria de Jesus na escolha de Judas foi assim prevenida, pois
Cristo não foi tomado de surpresa. Depois da Paixão, esses homens poderiam
olhar para trás e crer no seu Senhor mais firmemente do que nunca.
20. Judas não continuaria como representante de Cristo,
mas esses homens sim. Eles levavam o nome e a autoridade do Salvador. Aqueles
que reagissem favoravelmente estariam reagindo ao próprio Cristo. Este
princípio tem base no próprio relacionamento de Jesus com o Pai.
21. Agora Jesus revelava a causa do estado
perturbado de seu coração. Um traidor estava entre eles – um dentre
vós.
22. A perplexidade sobre a identidade do traidor tomou
conta do círculo apostólico. Judas desempenhou bem o seu papel. Estava fora de
suspeitas.
23. O "discípulo amado" ocupava um lugar imediatamente
ao lado de Jesus à mesa. Ele podia reclinar-se no seio do Salvador por causa da
posição usada.
24. Ansioso em saber quem era o traidor, Pedro, longe demais para
perguntar o nome a Jesus, acenou para João fazer a pergunta.
25, 26. Em resposta à pergunta cochichada por João, Jesus identificou
o traidor, não pelo nome, mas indicando que era aquele a quem passaria o bocado
molhado, um pedaço dado como sinal de favor especial e unidade. Deu-o
a Judas. Iscariotes provavelmente significa "homem de
Querite", uma cidade da Judéia.
27. Aceitar o bocado sem aceitar o amor suplicante que vinha
junto significa que Judas estava endurecendo seu coração para fazer o que estava
determinado a fazer – trair o Senhor. Fora descoberto e indignou-se. Desse
momento em diante Satanás o controlou inteiramente. Faze-o depressa. Mais
esforços em dissuadir Judas eram inúteis.
28. Nenhum... percebeu. Parece que Judas
estava assentado do lado de Jesus, do lado oposto de João. A
palavra de ordem despedindo Judas não foi ligada à traição nas mentes dos
outros.
29. Sabendo que Judas era o tesoureiro, imaginaram que
estivesse sendo enviado a fazer alguma compra para a festa ou de algo a ser
distribuído entre os pobres (Ne. 8:10).
30. E era noite. Numa obra
tão sensível ao simbolismo e significado oculto como este
Evangelho, estas palavras devem ter significado especial. Descrevem
imediatamente a condição de trevas de Judas por se entregar ao ódio de Jesus e
também a aproximação da hora quando os poderes das trevas engoliriam o
Salvador.
C. O Discurso no Cenáculo. 13:31 - 16:33.
Estas palavras preciosas de Cristo foram pronunciadas à luz de sua
iminente partida para o Pai e tinham em vista as condições sob as quais os
discípulos do senhor teriam de prosseguir sem sua presença pessoal (16:4). Três
linhas principais de ensinamentos discernem-se aqui: 1) ordens referentes à
tarefa que estava diante dos discípulos, a qual foi um testemunho frutífero
enlaçado e permeado pelo temor; 2) advertências referentes à oposição que
teriam de enfrentar do mundo e Satanás; e principalmente 3) uma exposição das
provisões divinas com as quais os discípulos seriam sustentados e triunfariam
nos dias futuros. De vez em quando os ensinamentos do Senhor eram
interrompidos por perguntas, mostrando que os discípulos tinham falta de
entendimento em muitos pontos.
31-35. Aviso da partida e ordem para que amassem uns aos
outros.
31. Agora foi glorificado o Filho do homem. Com
a saída de Judas, rapidamente se preparava o cenário para aquela
série de acontecimentos que glorificariam o Filho e o Pai. Na morte Cristo
seria glorificado aos olhos do Pai (cons. I Co. 1:18, 24). O Pai veria na morte
na cruz o cumprimento de Seu propósito. Só depois da Ressurreição os discípulos
sentiriam a glorificação.
32. Deus foi glorificado nele. Na ressurreição e
exaltação de Jesus e no derramamento do Espírito sobre os
discípulos, Deus manifestaria que Aquele que foi obediente até a morte, honrado
agora por Sua fidelidade, era Aquele que era um com Ele exatamente como
proclamou.
33. Filhinhos. A terna afeição foi aguçada pela
comoção do adeus. Os judeus o buscariam por curiosidade, e os Seus
por causa de afeição pessoal ; em ambos os casos, porém, seriam em vão buscá-lO
no sentido físico.
34. Havia algo, entretanto, a que poderiam devotar
vantajosamente suas energias.
Novo mandamento... Que vos ameis uns aos outros. Era novo no sentido
de que o amor devia ser exercido na direção dos outros não porque pertencessem
à mesma nação, mas porque pertenciam a Cristo. E era novo porque devia ser a
expressão do amor sem-par de Cristo, o qual os discípulos viram na vida e
veriam também na morte.
Como eu vos amei. Era, ao mesmo tempo, o padrão e o
poder motivador do amor que devia se manifestar.
35. Tal amor tinha de inevitavelmente ser um
testemunho ao mundo. Perpetuaria a memória de Cristo e apontaria para a
continuação de Sua vida, pois essa qualidade de amor só fora vista nEle. Os
homens reconhecem a bênção que há em tal amor ainda que eles mesmos não sejam
capazes de produzi-lo.
36-38. Pedro recusou-se a aceitar o prospecto da separação. Foi informado
de que não poderia seguir a Cristo naquela hora, mas poderia fazê-lo mais
tarde (cons. Jo. 21:19). Pronto a segui-lo agora Pedro estava pronto a
dar a sua vida pelo seu Senhor. Tal autoconfiança exigia uma repreensão. A
pretensa lealdade de Pedro produziria baixa rejeição, três vezes cometida.
Prof. Abdias Barreto. 85.988575757.
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