Interpretação Bíblica Evangelho de João 7
João 7
J. Jesus na Festa dos Tabernáculos. 7:1-53.
Este capítulo é inteiramente Cristocêntrico no sentido de que Cristo é o
assunto de muita discussão e motivo de diferentes reações como também o tema de
auto-revelação de Jesus.
1. Passadas estas
cousas. Parece que a referência foi aos acontecimentos do
último capítulo. Apesar do afastamento de tantos antigos discípulos, Jesus
achou mais seguro permanecer na Galiléia do que voltar para a Judéia, onde
havia hostilidade declarada.
2. O período passado na Galiléia foi demarcado pela Páscoa e
Festa dos Tabernáculos, um intervalo um pouquinho superior a seis meses. A
julgar pelos Sinóticos, Jesus passou a maior parte desse tempo em lugares
afastados dos caminhos, ensinando seus discípulos.
3-9. Com a aproximação desta festa outonal, que atraía judeus de toda
parte para as alegres festividades, os irmãos de Jesus acharam que a ocasião
era uma oportunidade capital para ele estender sua influência. Seus discípulos na
Judéia, talvez incluindo muitos galileus que se sentiram ofendidos e esfriaram
em sua atitude, poderiam ser reconquistados vendo suas obras. Os
irmãos eram uma miniatura da massa da nação, não duvidando da veracidade das
obras, mas não crendo nEle. Seu conselho era que, enquanto Jesus
permanecia oculto, precisava ser conhecido pelo mundo.
Substancialmente foi isso que Satanás tentou sugerir ao nosso Senhor na segunda
tentação. O tempo de Jesus não tinha chegado ainda (em outra parte comumente
chamado de "minha hora" – o tempo de sua manifestação na morte). Os
irmãos não tinham tal direito espiritual de orientar seus movimentos. Eles não
conheciam o ódio do mundo, pois faziam parte dele. De outro lado, Jesus,
sendo a verdade, tinha de testificar contra o mal que há no mundo. Ele não
podia ir a Jerusalém só para ganhar popularidade. Se Ele fosse, seria para
expor o pecado. Por enquanto não subo. A palavra ainda (ERC),
está ausente em muitas fontes limpas, e foi provavelmente acrescentada por
algum escriba para evitar contradição com o versículo 10. Jesus, com a sua
recusa, quis dizer que não subiria nos termos sugeridos pelos seus irmãos. Iria
na sua hora e à sua maneira, mas permaneceria na Galiléia por enquanto.
10-13. Quando ele subiu à festa, fê-lo discretamente, em oculto, sem
chamar a atenção. Enquanto isso os judeus (os líderes) ficaram
à procura dele entre a multidão, perguntando: "Onde está aquele
homem?" O povo também discutia a respeito dEle, com algumas diferenças de
opinião, oscilando entre o veredito de é bom e engana
o povo. O medo dos judeus mantinha os comentários em voz baixa (7:13. cons.
9:22).
14, 15. Em meio à festa, isto é, no meio da semana das festividades,
a qual terminava com uma reunião no oitavo dia (Lv. 23:36). Entrando no Templo,
Jesus começou a ensinar. Os líderes ficaram atônitos diante de sua exposição,
especialmente à vista do fato de que ele não fora treinado nas escolas
dos rabis (contraste com Paulo, Atos 22:3).
16-18. Aparentemente era o conteúdo dos ensinamentos de Jesus e não
a sua maneira ou dicção que causava o espanto. Em lugar de se vangloriar pela
sua capacidade, Jesus explicava que os ensinamentos pertenciam Àquele que o
enviara, remontando diretamente a Deus, em vez de admitir que devia a algum
mestre humano, tal como os escribas costumavam fazer. Qualquer um que tinha o
alvo moral de agradar a Deus (fazendo a Sua vontade) seria capaz de determinar
se os ensinamentos de Jesus eram independentes ou eram fiel reprodução do
divino. Tal pessoa perceberia que Jesus não estava buscando sua própria glória,
mas a dAquele que o tinha enviado. Tal pessoa se sentiria atraída por Jesus.
9-24. Jesus acusou os judeus de fracasso no cumprimento da Lei. Não
estavam fazendo a vontade de Deus nesse sentido. Como, então, poderiam aceitar
Aquele a quem Deus tinha enviado? Suas intenções homicidas para com Ele eram
por si mesmas violação do sexto mandamento. A multidão, ficando ao lado dos
líderes sem conhecer seus desígnios, pensava que Jesus estivesse louco,
atormentado por um demônio, imaginando que Sua vida estivesse em perigo (v. 20)
. O Senhor tinha de atingir as raízes da animosidade dos líderes. Aquele um só
feito que Ele fizera em Jerusalém e que deixara todos maravilhados, mas que
colocara os líderes contra Ele, foi a cura do homem aleijado, no sábado (cap.
5). O próprio Moisés, que os judeus respeitavam tanto, ordenou a circuncisão
(embora a prática se originasse com os patriarcas e não com
Moisés), de modo que ela tinha de ser realizada no oitavo dia (Lv. 12:3), mesmo
se caísse no sábado. Pelo motivo (v. 22) não está bastante
claro quanto à relação que tem com o assunto. Possivelmente aponta a seguinte
linha de pensamento - que a circuncisão no sábado era aceitável e na realidade
apontava para a obra que Jesus tinha realizado, uma vez que a restauração de um
homem física e espiritualmente era até mais significativo do que a
administração do sinal da aliança.
25-27. Aqui encontramos reflexões referentes a Jesus partindo de um
grupo que deve ser outro que "a multidão" do versículo 20. Estes eram
habitantes de Jerusalém que sabiam que a intenção dos líderes era matar Jesus.
Mas o fato de Jesus falar abertamente fê -los especular se os
líderes tinham invertido seu pensamento, concluindo que este homem era o Cristo
(v. 26). Pensando melhor no problema, anulara esta possibilidade, pois a origem
de Jesus o excluía de considerações (cons. 6:42). O Messias tinha de ser um
homem misterioso – ninguém saberá de onde ele é (cons.
Mt. 24:24-26).
28-31. Jesus garantiu, como ponto de partida, que Seus ouvintes o conheciam
e sabiam donde Ele era (v. 28). Entretanto, mesmo no plano terreno, eles não
estavam bem informados, ignorando o lugar onde nascera e presumivelmente também
as circunstâncias por trás do seu nascimento (cons. v. 52). Eles nada
sabiam sobre o Seu ser divino, e assim revelavam sua ignorância sobre Deus que
O enviara. Esta repreensão provocou uma exibição de descontentamento. Os homens
de Jerusalém estavam prontos a agarrar Jesus, mas foram providencialmente
impedidos de executarem seus desígnios (v. 30) . A sua hora é
uma referência ao tempo determinado por Deus para a sua morte. Alguns da
multidão não queriam abandonar a possibilidade de que Jesus fosse o Cristo,
Mas, aparentemente, criam nEle apenas com base nos sinais e
portanto não eram diferentes dos ex-crentes que o foram só de nome (cons.
2:23-25).
32-36. Sempre alertas ao que o homem das ruas dizia, os fariseus e os
principais sacerdotes (saduceus) enviaram guardas para prenderem Jesus.
Eles apareceram novamente na detenção no jardim (18:3, 12). Formavam uma força
policial judia para a área do templo. À luz deste desfecho, Jesus insistia que
o seu pouco de tempo (cons. 16:16) não seria dirigido por
ciladas humanas armadas contra Ele mas pela consumação de sua obra e a sua
volta ao Pai (v. 33). Então as pessoas o buscariam em vão. O tempo de buscá-lo
corretamente estava se esgotando. Dispersão entre os gregos. Provavelmente
significa a dispersão dos judeus entre os gregos, tornando possível alcançar os
próprios gregos nas sinagogas judias. Foi exatamente o que Jesus fez por meio
de sua Igreja em tempo posterior; assim, a declaração foi inconscientemente
profética (cons. 11:52).
37-39. E no último dia... da festa. Poderia ser o
sétimo ou o oitavo dia. O oitavo era uma espécie de acessório da
festa e também uma conclusão do ciclo de festas do ano. Se a referência que
Jesus faz à sede está conscientemente ligada à prática dos
sacerdotes de trazerem água em um cântaro de ouro, do tanque de Siloé, todos os
dias, para derramá-la no altar, então o convite de Jesus teria significado
especial no oitavo dia, quando, ao que parece, esta cerimônia era omitida. A
sede na viagem pelo deserto fora satisfatoriamente suprida por Deus, mas ela voltava.
Jesus oferecia satisfação espiritual duradoura (cons. 4:14). Novamente o
Judaísmo estava sendo exposto por ser inadequado, o pensamento avança; pois o
crente em Jesus que encontra essa satisfação transforma-se por sua vez em um
canal de bênçãos para os outros como condutor de rios de água viva (7:38).
Qualquer alusão ao próprio Cristo (cons. 19:34) é duvidosa. A Escritura não
pode ser identificada. Algumas passagens possíveis são Êx. 17:6;
Is. 44:3, 4; 58:11; Ez. 47:1-9; Zc. 14:8. Uma alternativa seria que João não se
referia a nenhuma passagem em particular, mas a um consenso de diversas delas.
A promessa de vida nova em abundância atribui-se aqui ao Espírito,
que é dado a todos os que crêem. Mas nessa ocasião o Espírito não viera ainda
no sentido célebre do pentecostes (cons. 14:26; 15:26; 16:7). Glorificado,
isto é, alcançado o alvo de sua missão na morte, ressurreição e ascensão. É do
Cristo glorificado que o Espírito é o mediador para os homens.
40- 44. A exclamação em voz alta e a natureza das palavras de Jesus levaram
muitos dos seus ouvintes a identificá-lO com o profeta que devia vir (Dt.
18:15; Jo. 1:21; 6:14). Outros estavam preparados a considerá-lO o Messias.
Isto suscitou o problema de sua origem. Para atender aos requisitos das
Escrituras, o Messias tinha de vir da semente de Davi e da cidade de Davi,
Belém. O povo, em sua ignorância, achava que Jesus era simplesmente galileu.
Aqueles que o tinham por fingido e falso estavam a favor de sua prisão, mas
foram providencialmente retidos (7:44).
45-49. Os servidores que foram mandados a buscar Jesus (v. 32) voltaram
agora de mãos vazias. Assim como os outros, eles só podiam explicar o seu
fracasso com base no fato de que nenhum homem falava como Ele. Sentiram nEle
algo sobrenatural e sentiram- se impotentes para desempenhar sua missão. A
resposta dos fariseus era que esses homens deviam receber orientação dos seus
superiores. Até então os principais sacerdotes (membros
do Sinédrio) e os fariseus (que ensinavam o povo) mantinham
sólida frente contra Ele. Creu nele porventura alguém...? Era
verdade, mas não por muito tempo, uma vez que um deles estava para se
declarar a favor de Jesus, ou pelo menos para defendê-lO. Os fariseus
procuravam explicar o interesse popular que Jesus despertava com base no fato
de que o povo era ignorante da Lei e por isso era amaldiçoado (cons. Dt.
28:15). Fontes judias indicam que freqüentemente havia má vontade entre os
fariseus e os am hares, ou povo da terra.
50, 51. Por mais que os fariseus conhecessem a Lei, não viviam de acordo com ela, conforme Nicodemos teve a coragem de denunciar. Eles procuraram prender um homem violando a Lei, a qual exigia que um homem fosse ouvido antes de ser preso desse modo (Dt. 1:16). Assim, os judeus não eram fiéis à sua própria Lei, na qual tanto se orgulhavam (cons. v. 19). Ignorando o desmascaramento feito por Nicodemos, os fariseus apelaram para o regionalismo, como já tinha acabado de apelar para o conceito de classe. Nicodemos tivera a coragem de defender um galileu, como se ele também fosse. O que a Galiléia tinha para oferecer? Não produzira nenhum profeta. Excluindo assim a Jesus das fileiras dos profetas, os fariseus revelaram sua própria ignorância, Pois Jonas pelo menos viera dessa região (II Reis 14:25).
Prof. Abdias Barreto. 85.988575757
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