Interpretação Bíblica Evangelho de João 10
João 10
N. Cristo, o Bom Pastor. 10:1-42.
O cenário continua sendo Jerusalém. Logo se percebe uma ligação entre a
apresentação de Cristo como o Bom Pastor e os acontecimentos dos capítulos
precedentes. Os fariseus, agindo como mercenários, não se preocupavam realmente
com as ovelhas, como se evidencia através de sua atitude em relação ao homem
cego. Quando ele foi expulso, Jesus se aproximou e o acolheu no seu aprisco.
1-6. O ensino aqui recebeu o nome de parábola (v. 6), mas a palavra
difere do termo usual. Indica uma figura de linguagem. Jesus estava aqui
estabelecendo fundamento para a aplicação da figura a Ele mesmo na passagem
seguinte.
1. Aprisco. Um lugar fechado onde as ovelhas eram abrigadas à noite,
geralmente perto da casa. Só tinha uma porta. Quem estivesse inclinado ao roubo
pularia o muro.
2, 3. Quem guardava a porta era o porteiro, em contraste com o pastor
que era recebido pelo porteiro. Só há um único pastor aqui. Cristo
não tem rival, embora haja vice-pastores na sua Igreja. Seu interesse pessoal
pelas ovelhas foi evidenciado quando Ele declarou que as chama pelos
nomes (cons. 1:43). Sugere- se a presença de outras ovelhas. Nem todos
os que se contavam entre o povo de Deus naquele tempo podiam se chamar ovelhas
do Senhor. E as conduz para fora em contraste com o ato dos
fariseus que expulsaram o homem que nascera cego. Confiança no pastor baseia-se
na voz, a qual revela a pessoa (cons. Gn. 27:22). Nenhum estranho pode
conseguir que o rebanho o siga, mesmo se conseguir entrar no aprisco saltando o
muro.
6. O auditório de Jesus não captou o significado dos seus ensinos (9:41).
7-18. O Senhor explicou a figura em termos relacionados com a sua própria
pessoa e sua missão.
7. A verdade é maior do que as formas pelas
quais ela foi comunicada. Na vida real o pastor não poderia ser identificado
com a porta. Mas o pensamento é demasiadamente valioso
para deixar passar (cons. 14:6).
8. Todos quantos vieram antes de mim. Isto não é
uma referência aos homens santos da antiga aliança, mas aos líderes
judeus que tinha colocado suas garras sobre a nação antes dele erguer a sua
voz. Ladrões são aqueles que simplesmente roubam. Salteadores são
aqueles que também cometem violência (cons. Mt. 23:25). As ovelhas não
lhes dão ouvido. Um exemplo era o homem cego, que se
afastara desses líderes, aborrecido.
9. Jesus se referia aos vice-pastores do
rebanho ou a todos os crentes? Favorável ao primeiro ponto de vista está o fato
de que entrar já foi usado em relação ao pastor (vv. 1, 2). Além disso, entrar
e sair é uma familiar expressão do V.T., relacionada com a atividade do líder
(I Sm. 18:16; II Sm. 3:25). Apesar disso, a largura da linguagem – alguém –
e as palavras será salvo favorecem uma referência inclusiva.
No sentido redentor a palavra salvar ocorre poucas vezes em
João (3:17; 5:34; 12:47). A liberdade do crente, em contraste com a sua
situação no Judaísmo, parece estar indiretamente sugerida ao entrar e sair e
sua nova satisfação (achará pastagem) era uma bem recebida mudança da
aridez dos ensinamentos aos quais estivera sujeito.
10. O trabalho do Bom Pastor é construtivo. A vida corresponde
a ser salvo (v. 9), e a abundância se refere ao encontro das pastagens. Nada no
original autoriza o acréscimo de mais à tradução.
11. Aqui foi apresentada a revelação central em todo o
padrão de pensamentos. Na qualidade de bom pastor, Jesus
preencheu a representação de Jeová do V.T. (Sl. 23:1; Is. 40:11), e também
se Colocou em oposição aos líderes que prejudicavam o rebanho porque eram maus
de coração. Em vez de tirar a vida, este Pastor estava preparado a dar a sua
vida pelas ovelhas. É uma profecia e também uma atitude (cons. 9:17).
12. Coisa diferente é o mercenário, que não se preocupa com as ovelhas
e as abandona em uma crise. Até um certo ponto este quadro reflete os pastores
(líderes) do V.T. que não foram fiéis, conforme repreendidos nos profetas (veja
Ez. 34 especialmente).
14. O cuidado do Pastor está ligado ao conhecimento
e afeição mútuas que caracterizam a relação entre Ele e as ovelhas.
15. Um laço de conhecimento existe também entre o Pastor e o Pai
que o enviou. O Filho conhece a vontade do Pai (que inclui o dar a vida do
Filho pelas ovelhas), e o Pai conhece o Filho, e conseqüentemente conhece que
pode contar com a sua obediência na execução desta difícil missão.
16. Aprisco. A mesma palavra foi traduzida
para curral em 9:1. Tenho outras ovelhas. A linguagem é
soberana e profética (cons. Atos 18:10). Não deste aprisco. Seria
uma referência aos judeus da Dispersão? É difícil porque eles basicamente
pertenciam aos judeus da Palestina. Jesus prefigurava os gentios que aceitariam
o Evangelho. Um rebanho. Não é a mesma palavra que
foi usada acima (aprisco) e foi propriamente traduzida
(cons. um Senhor, um corpo em Ef. 4:4, 5).
17, 18. O Pai ama o Filho sempre (17:24), mas tem um motivo especial
para amá-lO por causa de Sua obediência até à morte. A morte foi um mandamento do
Pai (cons. importa de 3:14; Mt, 16:21). Nenhum homem podia
tocar no Filho até que chegasse a sua hora (19:11). Ele entregaria o Seu
espírito a Deus (19:30). Mas a morte não seria o fim. Com igual soberania de
comando, o Filho revogaria a sentença de morte e retomaria a Sua vida
novamente. Ele podia confiantemente predizer a sua ressurreição.
19-21. Pela terceira vez neste Evangelho lemos sobre a divisão (schisma)
criado por Jesus entre os seus ouvintes (cons. 7:43; 9:16). Muitos queriam
rejeitá-lO como endemoninhado e indigno de ser ouvido. Outros
ficaram impressionados com as palavras que dizia (sem dúvida devido a sua
devoção pelas ovelhas) unidas com a lembrança do milagre realizado com o homem
cego.
22-30. Comentários Adicionais sobre a Identidade de Jesus. Provavelmente
um intervalo de cerca de dois meses separavam esta ocasião da precedente. A
Festa dos Tabernáculos pertencia à estação do Outono, e a Festa da Dedicação
vinha no inverno. Esta celebração era em recordação da purificação e
rededicação do Templo feita por Judas Macabeus depois do sacrilégio cometido
por Antíoco Epifânio. O ano foi de 165 a.C. Jesus foi assediado por alguns
judeus quando andava pelo alpendre de Salomão, que ficava na parte oriental do
Pátio dos Gentios, o pátio maior na área do Templo, que rodeava os pátios
interiores e o templo propriamente dito. Sua pergunta foi muito direta. Até
quando nos deixará a mente (alma) em
suspenso? Literalmente. Em outras palavras, eles queriam
uma resposta direta. Era ou não era o Cristo?
Nosso Senhor colocou seu dedo na dificuldade. Não era falta de
informação mas falta de vontade de crer. Seu próprio testemunho teria sido
suficiente; se não fosse, como no caso deles, então Suas obras testificavam
dEle (cons. 14:11). Não havia falta de clareza neste caso; o problema
permanecia com eles. Evidentemente não lhe pertenciam, uma vez que não tinham
vontade de segui-lo. Eles percebiam que o ensinamento do Seu pastor tinha um
novo sentido, e não estavam preparados a deixar o Judaísmo que conheciam e ao
qual se apegavam. Mas a nova ordem oferecia bênçãos e segurança que não
poderiam chegar a conhecer no seu farisaísmo.
Cristo oferecia a vida eterna como um presente (10:28;
cons. v. 10). Ao dizer que jamais perecerão se pertencessem ao seu rebanho, Jesus
usou a mais forte expressão conhecida na língua. Essa certeza era possível
porque a vida oferecida fundamentava-se no Seu dom (Rm. 11:29) e não em
consecuções humanas. Suas ovelhas também estavam a salvo de influências
estranhas – ninguém as arrebatará da minha mão.
As ovelhas pertenciam a Cristo porque eram presentes do Pai para Ele
(10:29). Naturalmente o Pai tinha interesse na sua preservação. Considerando
que Ele é supremo – maior do que tudo – não se pode imaginar
que algum poder seja capaz de arrancá-las de Sua protetora mão (cons. Rm. 8:38,
39). A conclusão do assunto é que nenhuma separação pode ser feita entre o Pai
e o Filho. Eles são mais do que colaboradores; são um na essência (a palavra um
não está no masculino – um indivíduo – mas no neutro, um ser).
31-33. Pela segunda vez Jesus foi ameaçado com apedrejamento da parte
dos seus oponentes (cons. 8:59). A provocação aqui foi a sua declaração de ser
um com o Pai, uma blasfêmia aos olhos dos judeus, que negavam a origem celeste
de Jesus. Para enfrentar sua posição o Senhor não dependia da repetição de Suas
declarações ou da ampliação das mesmas, mas voltava-se de Suas palavras para as
Suas obras. Eram mais fáceis de serem compreendidas e apreciadas.
Muitas obras boas. A atenção foi focalizada principalmente
sobre algumas, mas essas representavam as outras que não foram
contadas (20:30). Eram boas obras, as quais eram de se esperar emanarem
do Pai. Pensariam os judeus seriamente em apedrejar um homem por
causa de boas obras? Em resposta, os judeus puseram de lado
toda e qualquer referência às obras; as quais não podiam negar, e
retornaram à questão das palavras de Jesus, as quais eles se sentiam obrigados
a negar alegando blasfêmia. Para eles Jesus era um homem que se atrevia a
passar por Deus. Com base nisso quiseram matá-lo imediatamente e o procurariam
fazer mais tarde (19:7).
34-38. Neste impasse a única esperança de encontrar base para discussão
adicional consistia em apelar para a lei (há forte testemunho documentário
favorável à omissão da palavra vossa), uma vez que os judeus a
aceitavam. Lei, aqui, foi usada no amplo sentido referindo-se às Escrituras do
V.T. As palavras em questão, Sois deuses, ocorre em Salmo
82:6, com referência aos juízes hebreus. A palavra de Deus
concedeu-lhes um certo "status" de divindade na qualidade de seus
representantes. Uma vez que a Escritura (com especial referência à passagem em
questão) não pode falhar, com o fim de permitir que os homens rejeitassem seus
ensinamentos, como se podia levantar objeções contra Ele a quem o Pai
especialmente separara e enviara ao mundo? Pois se Cristo dissesse menos do que
afirmar que era o Filho de Deus estaria dizendo uma mentira. Afirmar sua
filiação não era blasfêmia (Jo. 10:36). Se os judeus não podiam testar suas
declarações verbais, pelo menos podiam julgá-lo com base nas obras (vs. 37, 38;
cons. vs. 25, 32). Seria possível progredir através das obras até a fé na
pessoa. Essa é também a verdade contida em 20:30, 31.
39 -42. A repetida afirmativa de unidade com o Pai causou uma ameaça de violência uma vez mais. Era tempo do Senhor ausentar -se da cidade. Encontrou refúgio em Betânia, além do Jordão, onde João estivera antes batizando (v. 40). Mesmo retirado não podia se esconder. As pessoas se lembraram do que João dissera a respeito dEle, e foram capazes de observar a diferença que havia entre o ministério de João, destituído de milagres, e o de Jesus, marcado por sinais. Claramente, o maior do que ele já chegara, conforme João tinha declarado. Incredulidade já não convinha mais. Muitos, ali, confiaram em Jesus. Sua fé colocou em negro relevo a incredulidade dos líderes de Jerusalém.
Prof, Abdias Barreto. 85.988575757.
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