Interpretação Bíblica Evangelho de João.
João 4
E. Missão na Samaria. 4:1-42.
Samaria, um território que os judeus evitavam se possível,
tornou se o cenário de um triunfo espiritual: um poço, uma mulher,
um testemunho, a colheita dos samaritanos que creram. Tanto o samaritanismo
quanto o judaísmo precisavam do corretivo de Cristo; precisavam ser
substituídos pela vida do novo nascimento.
1-4. A crescente popularidade de Jesus, que excedia a de João, começou a
alcançar os ouvidos dos fariseus. Para evitar problemas com eles nessa
ocasião, Jesus determinou deixar a área e ir para a Galiléia. Ali fez a
maior parte de seu trabalho, de acordo com o registro dos Sinóticos. Era-lhe
necessário atravessar a província de Samaria. Em João, essa palavra
costuma apontar uma necessidade divina, e pode ser o caso aqui, indicando a
necessidade de lidar com os samaritanos, abrindo-lhes as portas da vida. Além
disso, há a necessidade mais evidente de alcançar a Galiléia através de uma
rota mais reta.
5, 6. Sicar (muito provavelmente Siquém) ficava algumas poucas
milhas a sudeste da cidade de Samaria e bastante perto do Monte Gerizim, como
também do terreno que Jacó deu a José (Gn. 48:22). Jacó lhe deixou também um
poço por herança (Jo. 4:6). Diz-se que tinha cerca de 26 m de profundidade.
Aqui, Jesus, cansado da viagem e por causa do calor do meio-dia (hora sexta),
parou para descansar.
7-10. Uma mulher samaritana. Nenhuma referência à cidade de
Samaria, que ficava muito distante, mas ao território dos samaritanos. Ela
vinha equipada para tirar água. Considerando que a aldeia de
Sicar tinha água, é possível que a caminhada solitária da mulher ao poço de
Jacó indique uma espécie de ostracismo imposto pelas outras mulheres da
comunidade (cons. 4:18). Jesus interrompeu o silêncio pedindo água para beber.
Era um pedido natural à vista do seu cansaço. É um lembrete pungente da
humanidade de nosso Senhor. Atendido ou não (a última alternativa parece a mais
provável), o pedido introduziu a conversa. A partida dos discípulos foi
providencial, pois a mulher não teria conversado com Jesus na presença deles.
Duas coisas deixaram a mulher admirada: que Jesus fizesse tal pedido a uma
mulher, pois os rabis evitavam qualquer contato com mulheres em público; e
particularmente que ele falasse assim com alguém que era samaritano. Para
explicar sua admiração, o escritor acrescenta a observação de que os judeus não
se associavam aos samaritanos. Isto não pode ser aceito em sentido absoluto,
pois foi refutado pelo versículo 8. Mostra a indisposição que havia entre os
dois grupos de pessoas. Os judeus desprezavam os samaritanos porque eram um
povo de sangue e religião misturados, apesar de possuírem o Pentateuco e
professarem adorar o Deus de Israel. Um significado mais restrito foi proposto
para as palavras da mulher “os judeus não usam os mesmos vasos que os
samaritanos”. Isto se aplica bem à situação (D. Daube, The New
Testament and Rabbinic Judaism, pág. 375-382). Respondendo,
Jesus afastou-se de sua própria necessidade, sugerindo que a mulher tinha uma
necessidade mais profunda, que alguém podia atender por meio do dom de
Deus. Alguns o explicam em termos pessoais, referindo-se ao próprio Cristo
(3:16), mas provavelmente seria melhor que o tornássemos equivalente à água viva. João
7:37-39 é o melhor comentário (cons. Ap. 21:6).
11, 12. Pensando no poço que estava diante dele, a mulher ficou perplexa. Jesus
não tinha nenhum utensílio para tirar água e o poço era fundo. No fundo estava
a água viva (corrente) alimentada por uma fonte. Este rabi
estaria pretendendo evocar o que Jacó só conseguira com árduo trabalho? Ele
realmente seria maior se o conseguisse.
13-15. A água do poço tinha de ser consumida ininterruptamente, mas a água que
Cristo fornece satisfaz de modo que a pessoa nunca mais
terá sede. É assim que a vida eterna refrigera.
Pode-se estabelecer um paralelo com os repetidos sacrifícios da antiga aliança
e o sacrifício do Cordeiro de Deus oferecido uma vez para sempre. Ainda não
compreendendo, mas já receptiva, a mulher pediu essa água, para que a sua vida
ficasse mais fácil (4:15).
16-18. Antes da mulher poder receber o dom da água viva, tinha de compreender o
quão desesperadamente precisava dela. O dom era para a vida interior, a qual,
no caso dela, estava realmente vazia. Teu marido... não tenho marido...
cinco maridos... não é teu marido. A melancólica história
de sua vida conjugal foi descoberta pelo poder de penetração de Jesus e por sua
própria confissão. É provável que o divórcio entrou em pelo menos algum desses
cinco relacionamentos que precederam o “status” final ilegítimo. Moralmente, a
mulher estivera descendo há algum tempo.
19, 20. Para a mulher, Jesus era em primeiro lugar um judeu, depois alguém
merecedor do título Senhor, e agora um profeta. Ele
penetrara em sua alma. A referência à adoração no Monte Gerizim, instituída
para competir com a dos judeus em Jerusalém, pode ter sido uma tática
diversiva, mas é mais provável que fosse uma indicação da fome de um coração em
conhecer o caminho para Deus.
21-24. A hora vem. Na nova ordem que Cristo veio
inaugurar, o lugar da adoração subordina-se à Pessoa. O que importa é que os
homens adorem o Pai, a quem o Filho veio declarar. Usando o
pronome vós, Jesus talvez antecipasse a conversão dos samaritanos.
A adoração dos samaritanos era coisa confusa (cons. II Reis 17:33). A
salvação vem dos judeus, no sentido em que uma revelação especial lhes
fora dada quanto à maneira certa de se aproximarem de Deus; e o próprio Jesus,
como o Salvador, veio desse povo (Rm. 9:5). A hora, e já
chegou. Mesmo antes da nova dispensação ser inaugurada em seu caráter
universal, os verdadeiros adoradores têm o privilégio de adorarem Deus
Pai em espírito e verdade. Espírito parece uma alusão a
Jerusalém e sua adoração em termos da letra (Lei), enquanto que verdade faz
contraste à adoração inadequada e falsa dos samaritanos. O novo tipo de
adoração é imperativo porque Deus é Espírito (não um Espírito).
25, 26. A alusão que a mulher fez ao Messias foi provavelmente com base em Dt.
18:15-18, que era aceito como Escritura pelos samaritanos. Sendo o profeta por
excelência, o Messias seria capaz de anunciar tudo. Essa melancólica projeção
para o futuro foi desnecessária. Eu o sou, eu que falo contigo. Seria
perigoso para Jesus anunciar-se desse modo entre judeus, onde as idéias
sobre o messiado eram politicamente coloridas. Aqui, ao que parece, ele se
julgava seguro. A semente estava plantada, e na hora exata, pois a conversa
terminou com a chegada dos discípulos.
27-30. Os discípulos ficaram admirados ao ver que Jesus contrariava a convenção
social falando com uma mulher (veja v. 9). Mas o respeito por seu mestre evitou
que o interrogassem abertamente. Desimpedida do seu cântaro, a
mulher retirou-se a toda pressa para a cidade, como prova do seu propósito de
retornar, pois estava determinada a obter a água viva daquele momento em
diante. Ela fez mais do que Jesus pediu, e não foi ter com um só homem, mas aos
homens da cidade com a notícia de sua maravilhosa experiência. Ela não tinha a
presunção de ensiná-los, mas colocou um pensamento em suas mentes, por meio de
uma pergunta tentadora: Será que esse não é o Cristo? Os homens ficaram
suficientemente impressionados para irem com ela ao poço.
31-38. Enquanto isso os discípulos insistiam com Jesus para que comesse, mas
ele declinou dizendo que tinha um alimento que eles desconheciam. Este, ele
explicou, era fazer a vontade de Deus (v. 34). Ele a fizera na
ausência deles, e a fizera à luz da cruz, onde concluiria a obra que lhe fora
confiada por Deus (cons. 17:4; 19:30). Seu ministério era tanto semear como
colher. Quatro meses até à ceifa talvez fosse a espera normal
no reino natural, mas levantando seus olhos os discípulos veriam terras que já
branquejam (os samaritanos que se aproximavam), resultado de sua sementeira
(4:35). No trabalho espiritual, o semeador e o ceifeiro costumam
ser pessoas diferentes, que juntas se regozijam pelo que seus esforços
combinados realizaram (vs. 36, 37). Aqui em Samaria e em muitas outras
situações, os discípulos, embora não fossem os semeadores, seriam os
colhedores. Outros talvez inclua Jesus e a mulher de Samaria.
Num certo sentido até Moisés pode aqui ser incluído, sendo humanamente
responsável por implantar a semente da expectação messiânica no coração da
mulher.
39-42. Aqui somos informados do fruto que Cristo e a mulher puderam colher,
como semeador e colhedor. Muitos creram no Senhor por causa do
testemunho da mulher. Isso provocou um convite para que ficasse no meio deles,
no que Cristo consentiu por dois dias. Durante esses dias, outros
que teriam ouvido o testemunho da mulher e se inclinariam a crer em Jesus,
tomaram-se crente em pleno desenvolvimento por causa do que receberam através
da sua palavra, isto é, dos lábios de Jesus (v. 42). Salvador
do mundo – uma grata confissão, uma vez que significava que tanto
samaritanos como judeus poderiam ser salvos.
F. A Cura do Filho do Nobre. 4:43-54
Este incidente é o único parágrafo do ministério narrado por João que
relaciona com esta visita de Jesus à Galiléia. O rapaz, doente em Cafarnaum,
foi curado pela palavra de Jesus, quando este se encontrava em Caná, a milhas
de distância.
43-45. O significado de sua própria terra tem sido discutido.
Possivelmente a solução mais fácil é que o escritor esteja se referindo à
Galiléia como um todo. Uma falta de respeito era de se esperar ali, em
contraste com a crescente popularidade que lhe foi concedida na Judéia (3:26;
4:1). O fato de que os galileus que estiveram em Jerusalém e viram os seus
milagres ali estivessem prontos a aceitá-lo, não os colocava na classe de
crentes permanentes e verdadeiros (cons. 2:23-25; 4:48). Finalmente, os
galileus o desertariam (6:66). Enquanto estava em Caná, Jesus recebeu a visita
de um oficial do rei (basilikos, indicando uma figura real, ou de alguém
a serviço do rei). A esperança que o pai tinha de conseguir que Jesus curasse o
seu filho parece que se baseava no contato com os galileus que viram os
milagres de nosso Senhor em Jerusalém (4:47; cons. v. 45). Tendo viajado de
Cafarnaum a Caná, o pai fez um pedido urgente e repetido (êrôta) para
que Jesus descesse e curasse o rapaz. Jesus expressou o temor de q pai
como muitos outros, estivesse tão preocupado com as notícias dos milagres
realizados que não seria capaz de crer. Mais importante do que a saúde do rapaz
era a fé do pai. A resposta do pai exala o desespero da necessidade (cons. Mc.
9:22-24). Jesus provou-se digno da fé e também simpático aos sentimentos do
suplicante – Vai ... teu filho vive. Sua fé desenvolveu-se
rapidamente, o homem creu na palavra de Cristo sem qualquer
sinal visível, e seguiu o seu caminho satisfeito.
51-54. Os servos do nobre, vigiavam ansiosamente o filho do seu senhor na
ausência deste, quando notaram a mudança drástica em suas condições e saíram ao
encontro do pai com as boas novas. O próprio nobre, já tranqüilo em sua fé,
estava agora interessado em saber quando ocorrera a mudança. Quando comparou o
tempo da ausência da febre com o momento de sua entrevista com Jesus, ficou
sabendo que a cura não fora acidental. Creu ele. Sua fé foi
confirmada pela experiência. Sua fé contaminou toda a sua casa (v. 53). No
primeiro milagre em Caná, os discípulos creram. O segundo milagre
realizado no mesmo local resultou em um círculo de fé mais largo.
https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/11/interpretacao-de-joao-4.html
Prof. Abdias Barreto. 85.988575757.
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