Interpretação Bíblica Evangelho de João 14
João 14
O capítulo 14 trata principalmente do encorajamento
específico para contrabalançar a partida de Jesus, a deserção de Judas, e a
predita queda de Pedro. E são: a provisão final da casa do Pai; a volta de
Cristo para os Seus; a perspectiva de fazer coisas maiores; as possibilidades
ilimitadas da oração; o dom do Espírito Santo; e a provisão da paz de Cristo.
1. Se Pedro, o líder do grupo apostólico, falharia, é
claro que os corações estivessem turbados. Essa palavra foi usada em relação do
próprio Jesus em Jo. 11:33; 12:27; 13:21. "Ele experimentou aquilo que
poderia confortar e controlar em nós" (T.D. Bernard, The Central Teaching
of Jesus Christ).
Credes é, provavelmente, um imperativo em ambos os casos. Tudo parecia
estar às margens de um colapso. Era necessário uma renovada fé em Deus. A causa
de Jesus parecia estar diante da derrota; portanto a fé nEle era mais
necessária do que nunca. Cada nova provação como cada nova revelação é uma
chamada para a fé.
2. Casa de meu Pai (cons. 2:16). O Templo em
Jerusalém, com seus vastos pátios e numerosos gabinetes, sugere o
antítipo do Céu. Muitas moradas. Lugares de habitação.
A mesma palavra de 14:23. Eu vo-lo teria dito. O discípulo tem
o direito de supor que tem uma provisão divina adequada
mesmo quando não foi declarado. Vou preparar-vos. Como Pedro e
João foram à frente preparar o recinto para a ceia, Jesus precedia os demais na
glória para preparar "o cenáculo" para os Seus.
3. Voltarei. Gramaticalmente, é um presente do
futuro, enfatizando ambos, a certeza da vinda e a natureza iminente
do acontecimento. A vinda não enfatiza o Céu como tal, mas antes a reunião de
Cristo e o Seu povo. Onde eu estou – a mais satisfatória
definição do Céu. Esta linguagem espacial torna difícil interpretar o versículo
como sendo uma provisão da contínua presença de Cristo com o Seu povo enquanto
Este ainda se encontra na terra. A aplicação das palavras à morte do crente
também não é apropriada, pois nessa experiência os santos de Deus partem para
ir ter com Cristo (Fl. 1:23).
4. Os melhores textos traduzem assim: Vocês
sabem o caminho para onde vou.
5. Tomé viu um problema duplo no pronunciamento de Jesus. Uma
vez que ele como também os outros, não conheciam o destino, como poderiam
conhecer o caminho?
6. O caminho. Isto tem um
destaque especial por causa do contexto. Foi um tanto antecipado no
ensino sobre a porta (10:9). A verdade. Cristo
como verdade torna o caminho digno de confiança e infalível (cons.
1:14; 8:32, 36; Ef. 4:20, 21). A vida (cons. 1:4; 11:25).
Ninguém vem. O verbo coloca Jesus ao lado de Deus e não ao lado do
homem (Ele não disse "vai"). "Nenhum homem pode alcançar o Pai a
não ser que compreenda a Verdade e participe da Vida que foi revelada aos
homens por Seu Filho. Assim, apesar de ser o guia, Ele não nos guia a algo além
de Si mesmo. O conhecimento do Filho é o conhecimento de Deus" (Hoskyns).
7. As palavras sugerem o fracasso dos discípulos em
conhecer Cristo como Ele realmente era. À vista desta última revelação,
entretanto, não poderia haver justificativa para o fracasso em conhecer o Pai
tão bem quanto o Filho. Alguns manuscritos dão uma tradução diferente. "Se
vocês me conhecessem (como me conhecem), conheceriam também o meu
Pai".
8. O desejo de uma experiência objetiva era forte – mostra-nos
o Pai (cons. Êx. 33:17). Filipe sentia que conhecia Deus, mas não como Pai
no sentido máximo que Jesus tinha em mente quando falou dEle.
9. Há tanto tempo. Era pateticamente tarde para o
pedido. O Filho estivera revelando o Pai o tempo todo (10:30). Isto
estava no fundo de sua missão (1:18).
10. É claro que Filipe tinha de crer que havia comunhão de
vida entre o Pai e o Filho. Da união entre o Filho e o Pai vinham as
palavras que Jesus falava. Das obras que Ele realizava vinha a
demonstração de que o Pai habitava nEle e agia por intermédio dEle.
11. A exortação transferiu-se de Filipe para os
Onze. Crede-me. Isto é, aceitem meu testemunho sobre o meu
relacionamento com o Pai. Uma opinião suficientemente elevada de Cristo torna
sua auto-revelação em evidência final. Para aqueles que precisam de outra
evidência, as obras estão lá para sustentarem a
reivindicação.
12. Obras... maiores. Não devem se restringir aos
sinais que Jesus operou nos dias da sua carne. As obras não
poderiam ser maiores do que as Suas em qualidade, mas maiores em extensão.
Porque eu vou para junto do meu Pai. Esta é a razão das
obras maiores. As restrições impostas a Jesus pela encarnação
podiam ser removidas, sua posição com o Pai podia ser relacionada às obras
maiores de duas maneiras: respondendo às orações dos Seus, e enviando o
Parácleto como fonte infalível de sabedoria e força. As obras, então, não
seriam feitas independentemente de Cristo. Ele responderia as orações; ele
enviaria o Espírito.
13, 14. Tudo quanto. O alcance da oração. Pedirdes.
A condição da oração. Em meu nome. O terreno da
oração. Isto envolve duas coisas pelo menos: orar com a autoridade deferida por
Cristo (cons. Mt. 28:19; Atos 3:6) e orar em união com Ele, para que não se ore
fora de Sua vontade. Isso farei. A certeza da oração. A
fim de que o Pai seja glorificado no Filho. O propósito da
oração. Se pedirdes. O se está do lado
daquele que ora, não do lado de Cristo.
15. Se me amais. Esta é a atmosfera na qual
serão honradas por Seus servos não somente a ordem relativa à
oração, mas todas as outras ordens do Senhor.
Guardareis está no imperativo, mas boas fontes documentárias pedem
a forma futura "guardareis". O amor não é em primeiro lugar um
predicado sentimental; é a dinâmica da obediência.
Meus mandamentos. Basicamente, só Deus pode mandar. A Divindade
estava falando.
16. Esses mandamentos só podem ser guardados
no poder do Espírito Santo, chamado aqui o outro Consolador. Uma
tradução melhor neste ponto seria Ajudador. A palavra outro coloca
o Espírito em pé de igualdade com Jesus (cons. Fl. 4:13). No Espírito temos
mais do que um ajudador ocasional – a fim de que fique convosco para sempre.
17. O Espírito da verdade (cons. 15:26; 16:13). Ele
é iluminador além de ajudador. Seu grande tema é Cristo, a Verdade
(14:6; 15:26). Que o mundo não pode receber. O mundo é
governado pelos sentidos. Uma vez que o Espírito não pode ser visto
nem compreendido pela razão, Ele fica de fora da experiência consciente do
mundo (cons. I Co. 2:9-14). Habita convosco. Uma presença
constante, compensando o afastamento do Senhor. Em vós. Não
apenas com eles na qualidade de uma presença permeando o corpo físico, mas
habitando neles individualmente.
18. O mesmo assunto prossegue. Órfãos.
Desamparados. A necessidade dos discípulos seria atendida quando Cristo viesse
na bênção da ressurreição. Isto traria com Ele a pessoa do Espírito (20:22).
Assim como o Espírito estaria com eles e neles, também Cristo. Seria impossível
diferenciar os dois, tal como o Filho e o Pai são indivisíveis (cons. II Co.
3:17). Cristo não estava falando de sua vinda futura, como no versículo 3, mas
de uma vinda que atenderia uma necessidade imediata.
19. Cristo seria objeto de vista para o mundo por apenas um
tempo limitado. Então viria a morte, e ainda que seguida da ressurreição, isto
não o restauraria aos olhos dos homens (Mt. 23:39). Os discípulos
seriam capazes de vê-lo e de participarem de sua vida ressurreta porque
estavam espiritualmente vivos.
20. Naquele dia esses homens
seriam capazes de captar o significado daquilo que Jesus estivera tentando
lhes dizer sobre a Sua vida com o Pai, que era uma vida de interpenetração e
comunhão, e também sobre Sua própria vida, que fora agora da mesma maneira
elevada ao divino e impregnada dEle. Conhecereis. Gnôsesthe fala
de descoberta. Nem é necessário dizer, isto não dá ao crente o direito de dizer
que ele é Deus ou o Filho de Deus. A união não tem sentido separadamente da
existência individual daqueles que a compõem.
21. Jesus voltou ao assunto do amor e da obediência
aos Seus mandamentos (cons. v. 15), mas à vista dos ensinamentos do verso 20,
incluía agora a menção do Pai. Guardar os mandamentos de Cristo é prova de amor
a Cristo. Este amor desperta o amor correspondente do Pai, cujo amor ao Filho é
tal que Ele tem de amar a todos os que o amam. Produz também a manifestação do
Filho ao crente. O que os discípulos desfrutaram através da manifestação física
do Senhor ressuscitado após a Ressurreição, desfrutariam também no sentido
espiritual através de todo o restante de sua peregrinação terrena.
22. Judas, não o Iscariotes. A reputação do traidor
era tão má que João toma o cuidado de não permitir qualquer
confusão na identificação, apesar de que o outro Judas tivesse deixado o
recinto. Este Judas não podia entender uma manifestação restrita aos poucos
escolhidos, não que fosse impossível (ela estava acontecendo naquele momento)
mas não parecia de acordo com a glória do ofício messiânico. Se Cristo tinha de
voltar novamente, por que não ao mundo? Ficou perplexo com a declaração de
Jesus no versículo 19.
23. "A resposta a Judas é que a manifestação mencionada
tinha de ser limitada, porque só podia ser feita onde houvesse comunhão de amor
que se autenticasse pelo espírito de auto-negação e submissão às ordens de Jesus"
(William Milligan e W.F. Moulton. Commentary on the Gospel
of St. John). Esta manifestação além de ser muito pessoal, conduz
também a um relacionamento permanente – faremos nele morada. Observe
que o Filho tem a liberdade de empenhar o Pai em um certo curso de
ação, outra indicação clara de divindade.
24. Eis aqui o corolário do lado negativo da verdade do último versículo.
Mais uma vez Cristo confirmou a unidade da palavra do Filho com a do Pai.
25, 26. Isto... todas as coisas. Os ensinamentos de Cristo no tocante
às novas condições da era vindoura era mais sugestiva do que completa (cons.
16:12). Essa deficiência tinha de ser vencida pela vinda do Espírito Santo. Seu
ministério aos crentes tinha de ser, principalmente, ensinar-lhes (um dos
grandes ofícios de cristo também; os dois estão combinados por implicação em
Atos 1:1). Todas as coisas (cons. I Co. 2:13-15). Esses
assuntos presumivelmente seriam baseados na pessoa e na obra de Cristo,
proporcionando, assim, uma continuação dos ensinamentos de Jesus. Uma parte da
obra do Espírito, na realidade, seria a de recordar o que Cristo tinha falado
(cons. 2:22; 12:16).
27. A paz. Uma palavra
frequentemente relacionada com as despedidas (cons. Ef. 6:23. I Pe.
5:14). Mas isto é mais um legado do que um toque convencional. Deixo-vos (aphiêmi)
é raramente usado neste sentido. Outro exemplo ocorre na Septuaginta, no Salmo
17:14. A minha paz, uma qualidade diferente de
paz, diferente da paz do mundo, que seria abalada numa hora
como esta quando a morte se encontrava tão perto. O dom de sua paz tornaria
destemidos seus seguidores, assim como Ele (cons. 16:33).
28. O Senhor não tinha a intenção de esconder o fato
de Sua partida, mas Ele os lembrou que a tristeza da partida era aliviada pela
promessa de voltar novamente.
Se me amásseis. Seu amor era ainda incompleto. O amor
deseja o melhor para aquele que é amado. Os discípulos se
regozijariam com a Sua volta ao Pai.
O Pai é maior do que eu. Isto nada tem a ver com o ser
essencial, e não contradiz também João 10:30 e outras passagens. O
Pai estava em posição de recompensar o Filho pela obediência até à morte.
Aqui temos indicações de que a volta de Cristo ao Pai resultaria em bênçãos em
benefício de Seus seguidores; por isso Sua alegria não seria inteiramente desinteressada.
29. Todas as bênçãos derramadas no futuro corroborariam a
palavra de Cristo e aumentariam a confiança e a fé dos discípulos nEle.
30. O príncipe do mundo (cons, 12:31). Uma
referência a Satanás. Aqui a significação imediata parece ser à
traição de Judas, instrumento de Satanás, e a prisão de Jesus (cons. Lc.
22:53).
Nada tem em mim. Nenhuma participação na pessoa ou
causa de Cristo (cons. 13:8). Aqui pode haver uma sugestão da
verdade que Satanás nada tem em Cristo que seja seu de direito, que ele possa
reclamar ou se apropriar para seus próprios interesses. Cristo é sem pecado e
vitorioso sobre o mal.
31. Exatamente aquilo que Satanás estava para realizar, isto é, a morte de Cristo na cruz, era aquilo que o Salvador tinha urgência de realizar. Mas Ele não o fez como vítima indefesa de Satanás, fê-lo por amor ao pai, sabendo que era mandamento do pai (sua vontade expressa). Levantai-vos, vamo-nos daqui. De modo algum parece certo que a ordem foi imediatamente obedecida. Há uma dificuldade em supor que o restante do discurso fosse pronunciado em um lugar público, até mesmo no Templo.
Prof.
Abdias Barreto. 85.988575757.